Reações aos Sofrimentos
Por: Evanderson H. Cunha
A questão do sofrimento humano é algo intrigante tanto para crentes como para não crentes. Geralmente quando o sofrimento bate à porta os questionamentos mais comuns são: “Se Deus existe, porque não acaba com os sofrimentos?”; “se Deus é amoroso, porque permite os sofrimentos?”; “se Deus é poderoso, porque não impede os sofrimentos?” Além destes, são levantados muitos outros questionamentos que colocam em dúvida a pessoa de Deus e seus atributos.
Alguns crentes reagem negativamente aos sofrimentos, ao invés de reagirem positivamente. Quando uso a expressão “reagir negativamente” aos sofrimentos, estou dizendo que o crente que assim o faz, questiona o amor de Deus, questiona o quanto Deus se importa com ele, questiona seu merecimento próprio refletindo sobre seus atos de justiça, compara sua vida de sofrimentos com a vida dos ímpios que não se importam com Deus e mesmo assim prosperam. Como resultado destes questionamentos, surgem reações como a ira contra Deus, a amargura, o desgosto, a tristeza, a depressão, sentimento de auto-comiseração, o afastamento da comunhão com os irmãos e dos compromissos da igreja. Estas são as principais atitudes que estão presentes na vida do crente que reage negativamente aos sofrimentos.
Por outro lado, quando uso a expressão “reagir positivamente” aos sofrimentos, estou dizendo que o crente maduro que compreende o sofrimento na perspectiva da teologia bíblico-reformada, é capaz de suportar as aflições sentindo segurança em seu coração pela certeza de que Deus está no controle, podendo assim, alegrar-se no Senhor mesmo quando passar por aflições e sofrimentos. O crente que reage positivamente aos sofrimentos não duvida do amor de Deus e do seu cuidado. Ao contrário disso, compreende que Deus conduz todas as coisas para a realização de seus santos propósitos.
É de se esperar que a pessoa que não teme a Deus maldiga o seu nome nos momentos de sofrimento; que duvide do seu amor e até mesmo de sua existência. Porém, é lamentável averiguar que muitos crentes reajam negativamente aos sofrimentos, murmurando contra Deus, comparando sua vida com a dos incrédulos (Malaquias 3:15; Salmo 73:12-14) ou duvidando do cuidado amoroso de Deus até mesmo nas aflições. Este fato levanta alguns questionamentos: Porque grande parte dos crentes tem dificuldades para enfrentar os sofrimentos de maneira adequada? Por que grande parte dos crentes reage negativamente aos sofrimentos? Como o conselheiro bíblico deve orientar o crente que reage negativamente aos sofrimentos?
Entendo que a razão das reações negativas de crentes que sofrem está no fato de não terem uma compreensão bíblica coerente a respeito da questão do sofrimento. A compreensão da teologia bíblico-reformada é o caminho para que o crente reaja positivamente ao sofrimento. Necessário, portanto, não é apenas conhecer a teologia, mas viver em coerência com esse conhecimento.
A verdade é que muitos crentes têm dificuldades para enfrentar seus sofrimentos e reagem negativamente aos mesmos, pois não compreendem as causas dos sofrimentos. Não compreendem que Deus é soberano sobre todas as coisas, até mesmo sobre todos os sofrimentos. Não compreendem que os sofrimentos são contemplados pela providência de Deus e que são plenos de propósitos. Tais crentes são influenciados por filosofias e teologias que abordam o assunto de maneira distorcida.
Como exemplo, vemos abaixo algumas teologias e filosofia que influenciam os crentes a reagirem de maneira inadequada ao passarem por sofrimentos. Tais maneiras de pensar são contrárias à teologia bíblico-reformada em relação ao assunto.
A Teologia Arminiana - A teologia arminiana se esbarra na questão dos propósitos eternos de Deus. Esta teologia explica os sofrimentos como resultado exclusivamente da ação do homem e do Diabo. O homem, segundo a teologia arminiana, tem o livre-arbítrio para escolher o bem e o mal, sofrer ou não sofrer. Esta teologia não aceita que Deus tenha decretado o mal e o sofrimento, e consequentemente, tem dificuldades para compreender que Deus usa os sofrimentos para cumprir seus propósitos no decorrer da história.
A Teologia da Prosperidade - A teologia da prosperidade, entende que qualquer sofrimento é resultado de maldições hereditárias, ação do Diabo, falta de fé. Para os adeptos da teologia da prosperidade é inadmissível um crente passar por sofrimentos. Deus não permite que o crente fiel seja molestado pelas aflições, pelo contrário, o cobre de toda sorte de bênçãos de saúde, bens e tudo que lhe proporcione tranquilidade.
A Filosofia Hedonista - O Hedonismo parte de conceitos filosóficos sobre os principais objetivos da vida, definindo como principal alvo, maior intensidade de prazer e menor presença possível de dor e sofrimento.[1] A sociedade de forma geral tem alvos hedonistas, ou seja, a busca do prazer pelo prazer. O Hedonismo está presente, por exemplo, na teologia da prosperidade, a qual rejeita toda dor e sofrimento como contrários a vontade de Deus, e busca o prazer como prova da aprovação de Deus.
O crente é constantemente influenciado por estas teologias e filosofias, através de literaturas, programas de televisão onde os pregadores ensinam que em hipótese alguma o crente pode aceitar os sofrimentos. O próprio pensamento mundano, hedonista, é uma influência forte no coração do crente, levando-o a agir negativamente aos sofrimentos em sua vida.
É evidente a necessidade de buscarmos uma compreensão bíblico-reformada a respeito do sofrimento. Esse conhecimento serve para instrução do nosso próprio coração bem como dos crentes que não compreendem o sofrimento na perspectiva da soberania de Deus. Assim, poderemos continuar nos satisfazendo em Deus em meio aos sofrimentos, como fez o profeta Habacuque ao afirmar: “...todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação.” (Hab. 3:18).
[1] CHAMPLIN, Russel Norman e João Marques Bentes. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. São Paulo: Candeia, 2ª edição, 1995, p. 751.
Sugestão de leitura:
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Sobre o autor: Evanderson H. Cunha
- Bacharel em Teologia pelo Seminário JMC
- Bacharel em Teologia pela FACETEN – Reconhecido pelo MEC
- Mestre em Aconselhamento Bíblico pelo CPAJ
- Doutor em Ministério pelo CPAJ
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