O perdido encontrando significado na graça
Por: Ewerton B. Tokashiki
A sequência de parábolas narradas por Jesus, em Lc 15:3-32, talvez seja a melhor ilustração da aplicação do gracioso perdão de Deus ao salvar pecadores. As três parábolas são: a ovelha perdida (vs. 3-7); a dracma perdida (vs. 8-10); e, por fim, o filho pródigo (vs. 11-32). Embora as três narrativas tenham uma trilogia de temas em comuns como “a perda”, “o encontro”, e “a alegria”, elas também possuem ênfases diferentes. O exegeta judeu-cristão Alfred Edersheim observa que “na parábola do filho perdido o interesse principal centraliza-se em sua restauração. Não trata da tendência natural, nem do trabalho e o pó da casa como causa atribuída à perda, mas a livre decisão pessoal de um indivíduo. O filho não se perde e se extravia; não cai e se perde da vista, mas marcha voluntariamente, e sob circunstâncias agravantes” [1]. Em nenhum momento Cristo apresenta o filho pródigo como vítima, ou como produto do meio, mas é descrito como alguém que impiedosamente age contra o seu pai, que sem afetos abandona o seu lar, e que segue para uma terra distante para ser esquecido e esquecer as suas origens.
Nesta parábola temos três personagens. Não é correto pensarmos no filho pródigo como sendo o personagem principal. O pai amoroso e o filho mais velho não são secundários, mas partes de proporcional importância nesta narrativa, abordando aspectos diferentes da mesma situação. William Barclay sugere que “seria melhor chamá-la de ‘parábola do pai amoroso’, porque nos fala mais do amor de um pai do que do pecado de um filho” [2]. Entretanto, também não seria uma descrição precisa, nem a intenção de Cristo ao usá-la para a sua instrução. O pecado e a manifestação da graça é que são os verdadeiros temas centrais nesta história. O filho mais novo é um jovem que perdeu a oportunidade de ser o filho prodígio para se tornar o pródigo. Uma família judia comum, como qualquer outra nos tempos de Jesus, foi usada para ilustrar como Deus age para restaurar um relacionamento seriamente prejudicado pelo pecado.
Esta parábola mostra como o pecado é inerentemente sem sentido. Se tem um momento que a insensatez da iniquidade fica esclarecida, é quando tentamos entender o motivo de alguém que teria todos os benefícios simplesmente escolhendo praticar o amor, e insensivelmente prefere o desprezo, por causa, de seus pecados e ídolos. O pecado faz com que filhos saiam de casa em inimizade. Por causa da dureza do coração vemos casais que inicialmente fizeram juras de amor, e viveram sublimes momentos de romance se separando com ferino conflito de amargura. O pecado nivela por baixo, escravizando a pessoa na ânsia de fartar-se com comida podre enquanto poderia satisfazer-se numa farta refeição. Preferir trabalhar para um estranho, em troca de comida, deixando de construir a própria herança com o pai.
Além de insensato, o pecado também torna o indivíduo insensível. Neste caso, a maior evidência desta verdade é a insensibilidade com os próprios sentimentos, de modo, que o amor perde o seu brilho e alegria, tornando temporariamente ofuscado, sem valor e propósito. Simplesmente é loucura, mas isto é o que o pecado obscurecendo a mente produz: insensatez, insensibilidade e por fim, uma vida sem sentido.
NOTAS:
[1] Alfred Edersheim, La Vida y los Tiempos de Jesus el Messias, Editorial CLIE, vol. 2, p. 203.
[2] William Barclay, Lucas – El Nuevo Testamento Comentado, Editorial La Aurora, p. 200.
Sobre o autor: Ewerton B. Tokashiki
Pastor na Igreja Presbiteriana de Cerejeiras (2000-2005 [6 anos]); na Primeira Presbiteriana de Porto Velho (2006-20016 [11 anos])
Leciono disciplinas teológicas desde 1998 em diferentes instituições
Assistente de direção e bibliotecário no Seminário Teológico Presbiteriano JMC [2017-2018]
Pastor na Primeira Igreja Presbiteriana de Teófilo Otoni [2019]
Escritor e tradutor
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