Confissção Gaulesa [Francesa, ou La Rochelle] (1559)

Por: João Calvino

CONFISSÃO DE FÉ DAS IGREJAS REFORMADAS DA 

FRANÇA, DENOMINADA CONFISSÃO DE FÉ DE LA 

ROCHELLE ( A . D .   1559) 

 

I. DEUS E SUA REVELAÇÃO


1. Deus

Nós cremos e confessamos que há um só Deus, o qual é constituído de uma única e simples essência espiritual,  eterno, invisível, imutável,  infinito, incompreensível, inefável, o qual pode todas as coisas, que é sábio, bom, justo e plenamente misericordioso.

Dt 4.35,39; I Co 8.4,6; Gn 1.3; Ex 3.14; Jo 4.24; 2 Co 3.17; Rm 1.20; 1 Tm 1.17; Ml 3.6; Nm 23.19; Rm 11.33; At 7.48; 17.23; Jr 10.7,10; Lc 1.37; Rm 16.27; Mt 19.17; Jr 12.1; Sl  119.137; Ex 34.6,7.

2. A Revelação

Foi Deus quem se fez conhecer aos homens. Primeiramente, por suas obras, tanto pela  Criação como pela conservação e maneira como Ele a conduz. Também, e mais claramente ainda, pela Palavra, a qual foi primeiramente revelada
verbalmente e em seguida escrita nos livros que nós chamamos: Santa Escritura.

Rm 1.19,20; Rm 15.4; Jo 5.39; He 1.1; Gn 15.1; 3.15; 18.1; Ex 24.3,4; Rm1.2.

3. A Santa Escritura

Toda a Escritura está contida nos livros canônicos do Antigo e Novo Testamentos, os quais são detalhados como segue.

O Antigo Testamento:

Os cinco livros de Moisés, a saber: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. Josué, Juízes, Rute, o primeiro e o segundo livro de Samuel, o primeiro e o segundo livro dos Reis, o primeiro e o segundo livro das Crônicas, ou seja, Paralipômenos, os livros de Esdras, Neemias e Ester. Jó, Salmos, Provérbios de Salomão, Eclesiastes ou o Pregador, Cântico dos Cânticos. Os livros de Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,  Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

O Novo Testamento:

O santo Evangelho segundo São Mateus,  segundo São Marcos, segundo São Lucas e segundo São João. O segundo livro de São Lucas, chamado de Atos dos Apóstolos. As epístolas de São Paulo: uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas à Timóteo, uma à Tito, uma à Filemon. A epístola aos Hebreus, a epístola de São Tiago, a primeira e segunda espístolas de São Pedro, a primeira, segunda e terceira epístolas de São João, a epístola de São Judas, e o Apocalipse.

4. A Escritura, regra da fé

Nós reconhecemos que estes livros são canônicos e regra infalível de nossa fé, não tanto por comum acordo e consentimento da Igreja, mas pelo testemunho e a persuasão do Espírito Santo, que nos faz distingui-los dos outros livros eclesiásticos, sobre os quais, ainda que sejam úteis, neles não se pode fundamentar nenhum artigo de fé.

Sl 12.7; Sl 19.8,9.

5. A autoridade da Escritura

Nós cremos que a Palavra contida nesses livros tem sua origem em Deus, e que a autoridade que ela possui vem unicamente de Deus e não dos homens. Esta Palavra é a regra de toda a verdade e contém tudo que é necessário para o serviço de Deus e para nossa salvação; portanto, não é permitido aos homens, nem mesmo aos anjos, acrescentar, diminuir ou altera-la.
Concluímos que nem a antiguidade, nem os costumes, nem a maioria, nem sabedoria humana, nem julgamentos, nem prisões, nem as leis, nem decretos, nem os concílios, nem visões, nem milagres podem se opor a esta Escritura santa, mas ao contrário, todas as coisas devem ser examinadas, regulamentadas e reformadas por ela.


2 Tm 3.16,17; 1 Pe 1.11,12; 1 Pe 1.20,21; Jo 3.26-31; Jo 5.33,34; 1 Tm 1.15; Jo 15.15;
Jo 20.31; At. 20.27; Dt 4.2; 12.32; Gl 1.8; Pv 30.6; Ap 22.18,19; Mt 15.9; At 5.28,29; 1
Co 11.2,23.


Nossos Credos

Neste espírito, nós reconhecemos os três Símbolos, a saber:

O Credo dos Apóstolos.
O Credo de Nicéia.
O Credo de Atanásio.

Porque eles estão de acordo com a Palavra de Deus.

6. A Trindade

Esta Escritura santa nos ensina que na única e simples essência divina que confessamos, há três Pessoas, O Pai, o Filho e o Santo Espírito:

O Pai é a primeira causa, princípio e origem de todas as coisas.
O Filho, sua Palavra e sabedoria eterna.
O Espírito Santo, sua virtude, seu poder e eficácia.
O Filho é eternamente gerado do Pai; o Santo Espírito procede eternamente do Pai e doFilho.

As três Pessoas da Trindade não se confundem, mas são distintas; elas, no entanto, não estão separadas, porque elas possuem uma essência, eternidade e poder idênticos e são iguais em glória e majestade.
Nós aceitamos, portanto, neste ponto, as conclusões dos Concílios antigos e rejeitamos todas as seitas e heresias que foram rejeitadas pelos santos doutores, como santo Hilário, santo Atanásio e são Cirilo.

Dt 4.12; 10.17; Mt 28.19; 1 Jo 5.7; Mt 28.19; Jo 1.1; Jo 17.5; At 17.25; Rm 1.7; 1 Jo 5.7.

7.  A Criação

Nós cremos que Deus, em três Pessoas que cooperam entre si, por seu poder, sabedoria e incompreensível bondade, criou todas as coisas, não somente o céu, a terra e tudo que nela existe, mas também os espíritos invisíveis.

Os anjos e os demônios

Destes, uns caíram em perdição, os outros perseveraram na obediência. Cremos que os primeiros, estando corrompidos na perversidade, são inimigos de todo o bem e, por conseguinte, de toda a Igreja; os outros, tendo sido preservados pela graça de Deus, são ministros encarregados de glorificar seu Nome e de servir na salvação deseus eleitos.

Gn 1.1; 3.1; Jo 1.3; Cl 1.16; He 1.2; 2 Pe 2.4; Jd 6; Sl 103.20,21; Jo 8.44; He 1.7-14; Sl 34.8; 91.11.

8.  A providência de Deus

Nós cremos não somente que Deus criou todas as coisas, mas que ele as governa e as conduz, dispondo tudo o que acontece no mundo e dirigindo tudo segundo sua vontade. Certamente nós não cremos que Deus seja o autor do mal ou que alguma culpa lhe possa ser atribuída, porque, ao contrário, sua vontade é a regra soberana e infalível de toda a retidão e verdadeira justiça. Mas Deus dispõe de meios admiráveis para se servir dos demônios e dos ímpios, de tal sorte que ele converte em bem o mal que eles fazem e pelos quais são culpados.
Assim, confessando que nada pode ser feito sem a providência de Deus, nós adoramos com humildade aquilo que nos está encoberto, sem questionarmos aquilo que ultrapassa nosso conhecimento. Pelo contrário, aplicamos à nossa vida pessoal o que a Escritura nos ensina, para estarmos descansados e em segurança; porque Deus, a quem todas as coisas foram submetidas, vela por nós com um cuidado tão paternal que não cairá nenhum cabelo de nossa cabeça que não seja de sua vontade. E, entretanto, mantém os demônios e todos os nossos inimigos em prisão, de sorte que eles não podem nos fazer o menor mal, sem sua permissão.

Sl 104; 119.89-96; 147;  Pv 16.4; Mt 10.29; At 2.23; 4.28; 17.24,26,28; Rm 9.11; Ef 1.11; Sl 5.5; Os 13.9; 1 Jo 2.16; 3.8; Jó 1.22; At 2.23,24; 4.27,28; Rm 9.19,20; 11.33; Mt 10.30; Lc 21.18; Gn 3.15; Jó 1.12; 2.6; Mt 8.31; Jo 19.11.

II. O HOMEM E SEU PECADO

9. Pureza original e miserabilidade do homem

Nós cremos que o homem foi criado puro, sem a menor mancha e conforme a imagem de Deus; por sua própria culpa caiu da graça que havia recebido. Assim, ele se alienou de Deus, que é a fonte de toda a justiça e de todo o bem, a tal ponto que sua natureza, desde então, foi inteiramente corrompida.

Impossibilidade de uma religião natural

Nós cremos que o homem, estando cego em seu espírito e depravado em seu coração, perdeu totalmente sua integridade, sem restar nenhum vestígio. Ainda que ele tenha algum discernimento do bem e do mal, entretanto, a luz que nele subsiste se tornou em trevas no que diz respeito à sua procura por Deus, de sorte que ninguém pode se aproximar de Deus por sua razão ou inteligência.

A necessidade da graça

Todo o homem tem vontade, pela qual ele é incitado a fazer isso ou aquilo; nós cremos, entretanto, que ela é totalmente prisioneira do pecado, de maneira que não há liberdade para fazer o bem, exceto aquela que Deus lhe dá.

Gn 1.26; Ec 7.29; Ef 4.24; Gn 3.17; Rm 5.12; Ef 2.2,3; Gn 6.5; 8.21; Rm 1.20,21; 2.1-20; Rm 1.21; 1 Co 2.14; Rm 6.16,17; 8.6,7; Jr 10.23; Jo 1.12; 3.6; 8.36; 15.5; Rm 7.18; 1 Co 4.7; 2 Co 3.5; Fl 2.13.

10. A hereditariedade do pecado

Nós cremos que toda a descendência de Adão está infectada pelo contágio do pecado original, o qual é um mal hereditário e  não somente uma imitação, como ensinam os pelagianos, os quais têm seus erros por nós reprovados.
Nós estimamos que não seja necessário procurar saber como o pecado é transmitido de um homem à sua descendência, porque nos basta saber que o que Deus deu a Adão, não era apenas para ele, mas para ele e toda a sua posteridade, e assim, na pessoa mesma de Adão, nós fomos destituídos de todo o bem, e fomos precipitados numa indigência extrema e na maldição.

Gn 6.5; 8.21; Jó 14.4; Sl 51.7; Mt 15.19; Rm 5.12-18.

11. A condenação do pecado

Nós cremos também que este mal do pecado original, é pecado no senso próprio da palavra, o qual é suficiente para condenar todo o gênero humano, até as crianças desde o ventre materno, e como tal ele é reputado diante de Deus.
Nós cremos de fato, que após o Batismo, o pecado original é sempre pecado quanto à culpa; ainda que a condenação dos filhos de Deus seja abolida, não mais lhes imputando culpa, por sua bondade graciosa.
A permanência do pecado Nós cremos, também, que o pecado original é uma perversão que sempre produz frutos de malícia e rebelião, mesmo nos mais santos; ainda que eles o resistam, não deixam de ser manchados de enfermidades e faltas enquanto eles habitam neste mundo.

Sl 51.7; Rm 3.9-12,23; 5.12; Ef 2.3; Rm 7; 2 Co 12.7.

III. JESUS CRISTO

12. Nossa eleição em Jesus Cristo

Nós cremos que desta corrupção e condenação geral na qual todos os homens estão mergulhados, Deus tira os que, em seu conselho eterno e imutável, Ele elegeu por sua bondade e misericórdia em nosso Senhor Jesus Cristo, sem considerar suas obras, deixando os outros naquela mesma corrupção e condenação, para demonstrar neles Sua Justiça, como aos primeiros ele fez resplandecer as riquezas de sua misericórdia.
Porque uns não são melhores que os outros, até quando Deus os separa segundo o Seu conselho imutável, que Ele determinou em Jesus Cristo antes da fundação do mundo, e também ninguém poderia, por sua própria virtude, introduzir tal bem, visto que por natureza nós não podemos fazer um nenhuma boa ação, nem afeição, nem pensamento, até que Deus nos preceda e nos faça dispostos.

Jr 1.5; Rm 8.28-30 e todo o cap. 9; Ef 1.4,5; Rm 3.28; 2 Tm 1.9; Tt 3.5; Ex 9.16; Rm 9.22; 2 Tm 2.20; Ef 1.7; Rm 3.22,23; 9.23; Ef 1.4; 2 Tm 1.9; Jr 10.23; Rm 9.16; Ef 1.4,5; 2 Tm 1.9; Fl 2.13; Tt 3.3.

13. Nossa salvação está em Cristo

Nós cremos que em Jesus Cristo, tudo o que era necessário para nossa salvação foi-nos ofertado e comunicado. Nós cremos que Jesus Cristo, o qual nos foi dado para que sejamos salvos, foi feito para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção, de sorte que nos separando dEle, renunciamos à misericórdia do Pai, na qual devemos tomar como nosso único refúgio.

1 Co 1.30; Ef 1.7; Cl 1.13,14; 1 Tm 1.15; Tt 2.14; Jo 3-18; 1 Jo 2.23.

14. A divindade e humanidade de Jesus Cristo

Nós cremos que Jesus Cristo, sendo a Sabedoria de Deus e seu Filho eterno, revestiu-se de nossa carne a fim de ser Deus e homem em uma mesma pessoa e, em verdade, um homem como nós, capaz de sofrer em seu corpo e em sua alma, não diferente de nós senão no fato de ter sido puro de toda mácula.
Quanto à sua humanidade, nós cremos que Cristo foi autêntico em sua descendência de Abraão e Davi, conquanto que Ele tenha sido concebido pela virtude secreta do Espírito Santo. Assim, nós rejeitamos todas as heresias que, nos tempos antigos, conturbaram as Igrejas. Notadamente, as imaginações diabólicas de Serveto, o qual atribui ao Senhor Jesus uma divindade fantástica, ainda que diz ser Cristo origem e Senhor de todas as coisas, o nomeia Filho pessoal ou figurativo de Deus, e finalmente lhe forja um corpo de três elementos não criados, e dessa maneira mistura e destrói as duas naturezas de Cristo.

Jo 1.14; Fl 2.6,7; He 2.17; 2 Co 5.21; At 13.23; Rm 1.3; 8.3; 9.5; He 2.14,15; 4.15; Lc1.28, 31, 35; 2.11; Mt 1.18;

15. As duas naturezas de Cristo

Nós cremos que em uma mesma pessoa, a saber, Jesus Cristo, as duas naturezas estão verdadeira e inseparavelmente unidas, cada uma delas conservando, entretanto, suas características específicas, se bem que, nesta união das duas naturezas, a natureza divina, conservando sua qualidade própria, permanece não criada, infinita e preenchendo todas as coisas, da mesma maneira a natureza humana permaneceu finita, tendo sua forma, seus limites e suas características próprias. Além disso, ainda que Jesus Cristo ao ressuscitar tenha dado a  imortalidade ao seu corpo, nós cremos, entretanto, que não lhe foi subtraída a realidade própria de sua natureza humana.
Nós consideramos, portanto, Cristo em sua divindade, de tal sorte que não diminuímos nada da sua humanidade.

Mt 1.20,21; Lc 1.31,32,35,42,43; Jo 1.14; Rm 9.5; 1 Tm 2.5; 3.16; He 5.8; Lc 24.38,39; Rm 1.4; Fl 2.6-11; 3.21.
IV. A OBRA DA SALVAÇÃO

16. A morte de Cristo

Nós cremos que Deus, ao enviar seu Filho ao mundo, quis mostrar seu amor e sua inestimável bondade para conosco ao conduzi-lo à morte e ao ressuscitá-lo, para cumprir toda justiça e para nos adquirir a vida celeste.

Jo 3.16; 15.13; 1 Jo 4.9; Rm 4.25; 1 Tm 1.14,15.

17. Nossa reconciliação

Nós cremos que, pelo sacrifício único que o Senhor Jesus ofereceu sobre a cruz, somos reconciliados com Deus, a fim de sermos tomados por justos diante dEle e considerados como tais. Nós não podemos, com efeito, lhes ser agradáveis e participar de sua adoção, a menos que Ele nos perdoe os erros e os enterre. Assim, nós protestamos que Jesus Cristo é nossa integral e perfeita purificação, que em sua morte nós temos uma total satisfação para quitar nossos crimes e iniqüidades, das quais somos culpados e não podemos ser libertados exceto por esse meio.

2 Co 5.19; Ef 5.2; He 5.7-9; 9.14; 10.10,12,14; 1 Tm 1.15; 1 Pe 2.24-25; Ef 5.26; Tt 3.5; He 9.14; 1 Pe 1.18,19; 1 Jo 1.7; Rm 3.26.

18. Nosso perdão gratuito

Nós cremos que toda nossa justiça está fundamentada sobre a remissão de nossos pecados e que nossa única alegria se encontra nesse perdão, como disse Davi. Por causa disso, nós rejeitamos todos os outros meios pelos quais poderíamos pensar em nos justificar diante de Deus e, sem nos atribuir nenhuma virtude ou mérito, nós possuímos unicamente a obediência de Jesus Cristo, a qual nos foi atribuída para cobrir todos os nossos pecados, como também para nos fazer achar graça e favor diante de Deus.

Nossa paz

De fato, nós cremos que nos afastando pouco que seja desse fundamento – a obediência de Jesus Cristo – nós não poderemos achar em outro lugar nenhum descanso, mas que nós seriamos sempre atormentados pela insegurança porque, considerados em nós mesmos, nós somos dignos de ser odiados por Deus, e que não estaremos jamais em paz com Deus até que sejamos firmemente convencidos de que somos amados em Jesus Cristo.

Sl 32.1,2; Rm 4.7,8; Rm 3.19; Rm 5.19; 1 Tm 2.5; 1 Jo 2.1,2; Rm 1.16; At 4.12.

19. A oração

Nós cremos que é por esse meio que temos a liberdade e o privilégio de invocar a Deus, com plena confiança que Ele se mostrará como nosso Pai. Porque nós não teríamos o menor acesso ao Pai, se não fôssemos introduzidos diante dEle por este Mediador. Para sermos atendidos em seu Nome, convém receber nossa vida de Jesus Cristo, como de nosso Cabeça.

Rm 5.1; 8.15; Gl 4.6; Ef 3.12; Jo 15.16; Rm 5.2; Ef 2.13-15; 1 Tm 2.5; He 4.14.

20. A justificação pela fé

Nós cremos que Deus nos faz participar desta justiça (art.18) pela fé somente, porque ele disse que Jesus Cristo sofreu para obter nossa salvação, para que todo aquele que nEle crê não pereça. Nós cremos que participamos da justiça de Jesus Cristo, porque as promessas de vida que nos são dadas nEle, são adaptadas a nossa vida e sentimos o efeito quando as aceitamos, porque somos convencidos – a boca de Deus mesmo nos dando formal segurança – que nós não seremos frustrados no que elas prometem. Assim, a justiça que obtemos pela fé depende das promessas graciosas pelas quais Deus nos declara e nos atesta que nos ama.

Jo 3.16; Rm 3.24,25,27,28,30; 1.16,17; 4.3; 9.30-32; 11.6; Gl 2.1621; 3.9,10,18,24; 5.4; Fl 3.9; 2 Tm 1.9; Tt 3.5,6; He 11.7; At 10.43; Jo 17.23-26.

21. O dom da fé

Nós cremos que recebemos a luz da fé pela graça secreta do Espírito Santo, de tal maneira que ela é um dom gratuito e pessoal que Deus dispensa àqueles a quem Ele quer. Os fiéis não têm, portanto, de que se vangloriar; o fato de ter sido preferido aos outros lhes obrigando muito mais.
Nós cremos também que a fé não é dada aos eleitos somente de maneira temporária, para introduzi-los no bom caminho, mas para lhes fazer perseverar até o fim de suas vidas. Porque o início desta obra de graça incumbe a Deus, é também dEle a prerrogativa de termina-la.

Ef 1.17,18; 1 Ts 1.5; 2 Pe 1.3,4; Rm 9.16,18,24,25;  1 Co 4.7; Ef 2.8; 1 Co 1.8,9; Fl 1.6; 2.13.

22. Nossa regeneração

Sendo servos do pecado pela nossa natureza  corrompida, nós cremos que é por meio desta fé que somos regenerados, a fim de   vivermos em novidade de vida. Estando naturalmente escravizados ao pecado. Ora, nós recebemos pela fé, a graça de vivermos de maneira santa e no poder de Deus, recebendo a promessa que nos é dada pelo Evangelho, a saber, que Deus nos dará seu Espírito Santo.

As boas obras

Assim, a fé somente, não esfria em nosso coração o desejo de viver bem e de maneirasanta, mas ao contrário ela o engendra, excita e produz necessariamente as boas obras. Por fim, bem que Deus, para completar nossa salvação, nos regenera e nos torna capazes de fazer o bem, nós confessamos, entretanto, que as boas obras que fazemos sob a condução de seu Espírito não são levadas em conta para nos justificar ou para merecer de Deus que ele nos tenha como seus filhos, porque seriamos sempre abalados pela dúvida e inquietação, se nossas consciências não se apoiassem sobre a satisfação pela qual Jesus Cristo nos adquiriu.

Tt 3.5; 1 Pe 1.3; Rm 6.17-20; Cl 2.13; 3.10; Gl 5.6,22; 1 Jo 2.3,4; 2 Pe 1.5-8; Dt 30.6;
Jo 3.5; Lc 17.10; Sl 6.2; Rm 3.19,20; 4.3-5; Rm 5.1,2.

23. O uso da Lei e dos Profetas

Nós cremos que na vinda de Jesus Cristo todas as figuras e representações da Lei terminaram. Entretanto, ainda que as cerimônias do Antigo Testamento não estejam mais em uso, nós cremos que encontramos na pessoa de Cristo – em quem todas as coisas foram cumpridas – a substância e a realidade do que elas representavam e significavam. Mais ainda, cremos que é preciso da ajuda da Lei e dos Profetas tanto para regrar nossa vida como para sermos confirmados nas promessas do Evangelho.

Rm 10.4; Gl 3 e 4; Cl 2.17; Jo 1.17; Gl 4.3,9; 2 Pe 1.19; Lc 1.70; 2 Tm 3.16; 2 Pe 3.2.

24. Rejeição de falsas doutrinas

Porque Jesus Cristo nos foi dado como único Advogado e nos deu ordem de nos dirigirmos diretamente à seu Pai em seu Nome, e posto que nos é permitido orar apenas conforme a maneira que Deus nos prescreveu em sua Palavra:
Nós cremos que tudo o que os homens têm inventado quanto à intercessão dos santos, não passa de abuso e artimanha de Satanás para lhes desviar da forma correta de orar. Nós rejeitamos também, todos os outros meios que os homens presumem ter para se apegar a Deus, porque eles tiram o crédito do sacrifício da morte e da paixão de Jesus Cristo.
Enfim, nós consideramos o purgatório como um erro proveniente desta mesma fonte, de onde também provêm os votos monásticos,  as peregrinações, a proibição do casamento e de consumir certos alimentos, a observação cerimoniosa dos dias, a confissão auricular, as indulgências e todas as coisas como essas, através das quais se pensa merecer a graça e a salvação. Todas essas coisas, nós rejeitamos não somente por causa da idéia mentirosa de mérito nelas contidas, mas também porque elas são invenções humanas que impõem um jugo às nossas consciências.

1 Jo 2.1,2; 1 Tm 2.5; At 4.12; Jo 16.23,24; Mt 6.9 sgts.; Lc 11.2 sgts.; At 10.25,26; 14.15; Ap 19.10; 22.8,9; Mt 15.11; 6.16-18; At 10.14,15; Rm 14.2; Gl 4.9,10; Cl 2.18- 23; 1 Tm 4.2-5.

V. A IGREJA E SUA NATUREZA

25. O ministério da pregação e dos Sacramentos

Porque nós conhecemos Jesus Cristo e todas as suas graças somente pelo Evangelho, nós cremos que a ordem da Igreja, a qual foi estabelecida por Cristo, deve ser sagrada e inviolável, e que, por conseguinte, a Igreja não pode se manter sem que haja pastores encarregados de ensina-la.
Nós cremos que os pastores, quando eles são devidamente chamados e exercem fielmente seu ofício, devem ser honrados e ouvidos com respeito, não que Deus dependa de ajuda ou meios inferiores, mas porque lhe agrada nos manter em um único corpo por meio deste ofício e de sua disciplina.
Consequentemente, nós reprovamos os espíritos enganosos que gostariam, tanto quanto pudessem, de aniquilar o ministério de pregação da Palavra de Deus e dos Sacramentos.

Mt 10.27; Rm 1.16,17; 10.17; Mt 18.20; Ef 1.22,23; Mt 10.40; Jo 13.20; Lc 10.16; Rm 10.14,15; Ef 4.11,12.

26. A unidade da Igreja

Nós cremos, portanto, que ninguém deve se separar e se contentar consigo mesmo, mas todos juntos devem guardar e manter  a unidade da Igreja, se submetendo ao ensinamento comum e ao jugo de Jesus Cristo, onde quer que seja o lugar que Deus queira estabelecer uma ordem eclesiástica verdadeira, ainda que o poder público e as leis se oponham. Nós cremos que todos aqueles que não se submetem a esta ordem, ou se separam, contrariam a ordenança de Deus.

Sl 5.8; 22.23; 42.5; Ef 4.12; Hb 2.12; At 4.17,19,20; Hb 10.25.

27. A Igreja verdadeira

Nós cremos, entretanto, que convém discernir cuidadosamente e com clarividência qual é a Igreja verdadeira, porque há muito abuso nesta questão. Segundo a Palavra de Deus, nós então dizemos que a Igreja verdadeira é a  comunidade dos fiéis que, de comum acordo, querem seguir esta Palavra e a pura religião que dela depende, que dela fazem proveito ao longo de toda sua vida, crescendo e se fortificando sem cessar no temor de Deus, segundo o que lhes é necessário progredir e andar sempre mais adiante. Ainda mais, qualquer que seja seus esforços, lhes convém recorrer incessantemente ao perdão de seus pecados. Entretanto, não negamos que entre os fiéis não haja hipócritas e reprovados, cuja malignidade não pode, no entanto, privar a Igreja de seu legítimo nome.

Mt 3.8-10; 7.22,24; 1 Co 3.10,11; Mq 2.10-12; Ef 2.19,20; 4.11,12; 1 Tm 3.15; Dt31.12; Rm 3; Mt 13; 2 Tm 2.18-20.

28. As falsas Igrejas

Fundamentados sobre esta definição da Igreja verdadeira, nós afirmamos que onde a Palavra de Deus não é recebida e onde não se lamenta a insubmissão, e onde não é feito nenhum uso autêntico dos Sacramentos, não se pode considerar que haja alguma Igreja.

O Papado

Por isso nós condenamos as assembléias  do Papado, porque tendo sido banida a verdade pura de Deus, os Sacramentos foram corrompidos, alterados, falsificados ou totalmente aniquilados, e toda a sorte de superstições e idolatrias nela estão presentes. Nós estimamos que todos aqueles que se reúnem e participam de tais atos se separam e se retiram do Corpo de Cristo. Entretanto, porque ainda resta um pequeno vestígio de Igreja no Papado, e que a realidade essencial do Batismo nela subsistiu – ligado ao fato que a eficácia do Batismo não depende daquele que o administra – nós confessamos que aqueles que foram nela batizados,  não necessitam de um segundo batismo.
Entretanto, por causa das corrupções que nela existem, não se pode, sem se contaminar, apresentar as crianças para o batismo.

Mt 10.14,15; Jo 10; 1 Co 3.10-13; Ef 2.19-21;2 Co 6.14-16; 1 Co 6.15; Mt 3.11; 28.19; Mc 1.8; At 1.5; 11.15-17; 19.4-5; 1 Co 1.13.

VI. GOVERNO DA IGREJA

29. Os ministérios

Quanto à Igreja verdadeira, nós cremos  que ela deve ser governada segundo a ordem estabelecida por nosso Senhor Jesus Cristo, a saber, que nela haja pastores, presbíteros e diáconos, a fim de que a pureza da doutrina nela seja mantida, que os desvios sejam corrigidos e reprimidos, que os pobres e aflitos sejam socorridos em suas necessidades, que as assembleias se reúnam em nome de Deus e que os adultos nela sejam edificados, como também as crianças.

At 6.3,4; Ef 4.11; 1 Tm 3.1-13; Tt 1.5-9; 1 Co 12.

30. A igualdade dos pastores

Nós cremos que todos os verdadeiros pastores, em qualquer lugar que seja, têm a mesma autoridade e igual poder sob um único Cabeça, um único Soberano e único Bispo universal: Jesus Cristo.

A igualdade das Igrejas

Por esta razão, nós cremos que nenhuma  Igreja pode pretender exercer domínio ou soberania sobre outra Igreja qualquer que seja.

Mt 20.20-28; 1 Co 3.4-9; Ef 1.22; Cl 1.18,19.

31. As vocações

Nós cremos que ninguém pode pretender um cargo eclesiástico baseado em sua própria autoridade, mas que isto deve ser feito por eleição, tanto quanto for possível e Deus permita.
Nós acrescentamos esta restrição em particular, porque às vezes tem sido necessário – pois mesmo em nosso tempo a Igreja verdadeira havia deixado de existir – que Deus levante homens de uma maneira extraordinária para dirigir novamente a Igreja que tenha caído em ruína e desolação.

A Vocação Interior

Mas, em qualquer situação, nós cremos que é preciso sempre se conformar à regra que todos, pastores, presbíteros e diáconos, estejam seguros de terem sido chamados (por Deus) a seu ofício.

Mt 28.19; Mc 16.15; Jo 15.16; At 1.21; 6.1-3; Rm 10.15; Tt 1.5; Gl 1.15; 2 Tm 3.7-10,15.

32. A comunhão entre as Igrejas

Nós cremos também que é bom e útil que aqueles que forem escolhidos para ser líderes, procurem juntos os meios a serem empregados para dirigir e administrar todo o corpo da Igreja. Entretanto, que  eles não se desviem em nada do que nosso Senhor Jesus Cristo nos ordenou sobre este ponto.

Os costumes locais

Isto não impede que haja  alguns regulamentos particulares de cada lugar, segundo a exigência do momento.

At 15.6,7,25,28; Rm 12.6-8, 1 Co 14.40; 1 Pe 5.1-3.

33. Leis e regulamentos eclesiásticos

Entretanto, nós rejeitamos todas as invenções humanas e  todas as leis que quiseram introduzir sob pretexto de servir a Deus e pelas quais se deseja submeter as consciências. Nós não aprovamos, exceto o que contribua a estabelecer a concórdia e seja apropriado em promovê-la e manter cada um – do primeiro ao último - em obediência.

A excomunhão

Nós devemos seguir o que nosso Senhor declarou quanto à excomunhão, o que nós aprovamos e confessamos ser necessário com todas as suas consequências.

Rm 16.17,18; 1 Co 3.11; Gl 5.1; Cl 2.8; Mt 18.17; 1 Co 5.45; 1 Tm 1.20.

VII. Os Sacramentos

34. Os Sacramentos em geral

Nós cremos que os Sacramentos foram acrescentados à Palavra para nos confirmar mais amplamente, a fim de nos servir de testemunho e provas da graça de Deus, de sorte que por causa de nossa fraqueza e ignorância, eles servem de ajuda à nossa fé.
Cremos que os Sacramentos são sinais exteriores através dos quais Deus age pelo poder de Seu Espírito, a fim de que ali nada  seja representado em vão. Nós estamos, entretanto, persuadidos de que toda a substância e realidade dos Sacramentos está em Jesus Cristo.

Ex 12; Mt 26.26,27; Rm 4.11; 1 Co 11.23,24; At 22.16; Gl 3.27; Ef 5.26.

35. O Batismo

Nós reconhecemos somente dois Sacramentos comuns a toda Igreja: o Batismo e a Santa Ceia. O Batismo nos foi dado em testemunho de nossa adoção, porque nós somos enxertados no corpo de Cristo, a fim de  sermos lavados e limpos pelo seu sangue e depois renovados por seu Espírito para vivermos uma vida santa. Posto que nós recebemos o Batismo uma única vez, nós afirmamos também que os benefícios que dele nos são presentes, se estendem pelo curso de toda a nossa vida, e mesmo até nossa morte, de sorte que temos uma prova permanente que Jesus Cristo será sempre nossa justiça e nossa santificação.

O Batismo de crianças

Ora, ainda que o Batismo seja um sacramento de fé e de arrependimento, entretanto, porque Deus recebe em sua Igreja os filhos com seus pais, nós dizemos que, pela autoridade de Jesus Cristo, os filhos gerados pelos fiéis devem ser batizados.

Rm 6.3,4; At 22.16; Tt 3.5; Ef 5.26; Rm 4; 6.22,23; Mt 3.11; Mc 1.4; 16.16; Lc 3.3; At 13.24; 19.4; Mt 19.14; 1 Co 7.14.

36. A Santa Ceia

Nós confessamos que a Santa Ceia nos traz o testemunho de nossa união com Jesus Cristo. De fato, Cristo não foi uma única  vez morto e ressuscitado por nós, mas ele verdadeiramente nos alimenta também de sua carne e sangue, a fim de que sejamos um com ele e que sua vida nos seja comunicada. Ora, ainda que ele esteja no céu até que venha para julgar o mundo, nós cremos, entretanto, que ele nos alimenta e vivifica – pela ação secreta e incompreensível de seu Espírito – da substância de seu corpo e de seu sangue. Nós afirmamos que isso se faz espiritualmente, não para substituição do efeito e da verdadeira realidade da Ceia por imaginação ou pensamento, mas que este mistério ultrapassa por sua grandeza nossa capacidade humana, e toda a ordem da natureza; em resumo, porque ele é celeste, entendemos que não pode ser apreendido a não ser pela fé.

1 Co 10.16,17; 11.24; Jo 6.55-57; 17.21; Rm 8.32; Mc 16.19; At 1.2-11; 3.21; Jo 6.35.

37. A eficácia dos Sacramentos

Nós cremos – como já dissemos – que tanto  na Ceia como no Batismo, Deus nos dá realmente e efetivamente o que neles é representado. Por causa disso, nós conjugamos com os símbolos a verdadeira posse e o gozo do que neles nos é apresentado. Assim, todos os que trazem à mesa sagrada de Cristo uma fé pura, recebem verdadeiramente – como um vaso recebe a água que o enche – o que os símbolos testificam, ou seja, que o corpo e o sangue de Jesus Cristo não servem menos de comida e bebida à alma, que o pão e o vinho ao nosso corpo.

Mt 26.26; 1 Co 11.24,25.

38. A necessidade dos Sacramentos

Nós afirmamos que a água do Batismo, sendo um elemento comum, não deixa de nos testificar, com verdade, a purificação interior de nossa alma pelo sangue de Jesus Cristo, pela eficácia de seu Espírito, e que o pão e o vinho, que nos são dados na Ceia, nos servem verdadeiramente de alimento espiritual, porque eles nos mostram como sem nenhum artifício a carne de Jesus Cristo é nosso alimento e seu sangue nossa bebida.
Nós reprovamos, portanto, os espíritos quiméricos e os sacramentais que não querem receber estes símbolos e testemunhos, visto que Jesus Cristo declara: "Isto é meu corpo, e este cálice é o meu sangue".

Rm 6.3,4; 1 Co 6.11; Ef 5.26; Jo 6.51; 1 Co 11.24; Mt 26.26; 1 Co 11.24,25.

VIII. OS PODERES PÚBLICOS

39. A necessidade dos governos

Nós cremos que Deus quer que o mundo seja dirigido por leis e governos, a fim de que haja alguns freios para reprimir os apetites desordenados do mundo. Nós cremos, portanto, que Deus instituiu  os Reinos, as Repúblicas e  todas as outras formas de Principados, hereditários ou não, e tudo o que  pertença à esfera da justiça, e que Ele deseja ser reconhecido nelas como seu autor.

Os Magistrados

Com esse fim, Deus pôs a espada na mão  dos magistrados para reprimir os pecados cometidos não somente contra a segunda Tábua dos Mandamentos de Deus, mas também contra a primeira.

O respeito devido às autoridades

É necessário, portanto, por causa de Deus,  não somente que se apóie as autoridades quando elas exercem soberanamente seus cargos, mas também que sejam honradas e estimadas com profundo respeito, as considerando como oficiais estabelecidos por Deus para exercer um cargo legítimo e santo.

Ex 18. 20,21; Mt 17.24-27; Rm 13.1-7; 1 Pe 2.13,14; 1 Tm 2.2.

40. A obediência devida às autoridades

Nós afirmamos, portanto, que é preciso obedecer às suas leis e regulamentos, pagar os impostos, tributos e outros encargos e obedecê-las de boa e franca vontade – mesmo quando elas sejam infiéis  -  contanto que a soberania absoluta de Deus permaneça intocada.

Assim, nós reprovamos aqueles que queiram rejeitar as autoridades superiores, estabelecer a comunidade e confusão de bens e inverter a ordem da justiça.

Mt 17.24; At 4.17-19.

Traduzido do francês por: Paulo Athayde



Sobre o autor: João Calvino

João Calvino (Noyon, 10 de julho de 1509 — Genebra, 27 de maio de 1564) foi um teólogo cristão francês. Aos 14 anos foi estudar em Paris preparando-se para entrar na universidade. Estudou gramática, filosofia, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música. Em 1523 foi estudar no famoso Colégio Montaigu. Em 1528, com 19 anos, iniciou seus estudos em Direito e, depois, em Literatura. Em 1532 escreveu seu primeiro livro, um comentário à obra De Clementia de Sêneca. Em 1533, na reabertura da Universidade de Paris, escreveu um discurso atacando a teologia dos escolásticos e foi perseguido. Possivelmente foi neste período 1533-34 que Calvino se converteu, por influência de seu primo Robert Olivétan.

Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, que continua até hoje. Portanto, a forma de protestantismo que ele ensinou e viveu é conhecida por alguns pelo nome calvinismo, embora o próprio Calvino tivesse repudiado contundentemente este apelido. Esta variante do protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.

Nascido na casa dele , ao norte da França, foi batizado com o nome de Jehan Cauvin. A tradução do apelido de família "Cauvin" para o latim Calvinus deu a origem ao nome "Calvino", pelo qual se tornou conhecido. Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja Católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça.[1]

Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Para muitos historiadores, Calvino terá sido para o povo de língua francesa aquilo que Lutero foi para o povo de língua alemã - uma figura quase paternal. Lutero era dotado de uma retórica mais direta, por vezes grosseira, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado e geométrico, quase de filigrana.

Segundo Bernard Cottret, biógrafo francês de Calvino: "Quando se observa estes dois homens podia-se dizer que cada um deles se insere já num imaginário nacional: Lutero o defensor das liberdades germânicas, o qual se dirige com palavras arrojadas aos senhores feudais da nação alemã; Calvino, o filósofo pré-cartesiano, precursor da língua francesa, de uma severidade clássica, que se identifica pela clareza do estilo".

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Última atualização: 01/08/2020 10:07:00



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