Fumaça de charuto, espelhos e transformação
Por: Carl Trueman
É tempo de olhar novamente para o ensino do Novo Testamento sobre a Igreja como um povo peregrino, e que aqui não temos um lar duradouro.
Como alguém discerne que está envelhecendo? Na Grã-Bretanha, é um pensamento típico que os policiais comecem a observar os mais jovens. Por aqui, tenho uma suspeita de que é quando você lê empolgado um texto de D.G. Hart sobre charutos, e se percebe concordando. Como admirar Simon Heffer, é uma daquelas coisas que os jovens nunca fariam.
No entanto, seu recente artigo na Old Life[1] é o mais apropriado, junto com algumas partes relacionadas de sua história do Calvinismo (pelo menos na versão depurada que tenho, sem o capítulo sobre Jeremy Walker).
A crítica de DG à Old Life das alegações bombásticas sobre o transformacionismo é semelhante àquelas que frequentemente faço em sala de aula sobre a conversa da [singular] “cosmovisão cristã”: tais coisas são, em geral, código para a expressão das preocupações de tagarelas da classe média, num brando idioma cristão. Até onde sei, por exemplo, nenhuma conferência sobre a transformação da limpeza cristã de banheiro, ou uma pomposa interpretação foi organizada com sucesso.
É nesse ponto que a história do Calvinismo da DG é interessante. Fiquei impressionado com seu relato de Abraham Kuyper. Aqui estava um (provável) competente e um (definido) workaholic[2] que tinha à sua disposição uma universidade, um jornal e uma denominação, e também ocupava o mais alto cargo político em seu país. Poderíamos também acrescentar à mistura que ele fez disso numa época em que a cultura europeia era muito mais simpática às preocupações amplamente cristãs do que a dos EUA de hoje. Entretanto, Kuyper falhou em realizar qualquer transformação duradoura da sociedade. Basta visitar Amsterdam hoje, veja se você consegue suportar a imundície pornográfica mesmo nas áreas onde as luzes não são todas vermelhas.
Perdoe-me por soar rabugento aqui, mas ouvi semana passada de um amigo da PCA[3] que não consegue encontrar um espaço para alugar para sua igreja no Domingo por causa da posição do PCA sobre o casamento gay. E isso é ao sul do Mason-Dixon, não de Boston, Seattle ou Nova York. Sim, é ótimo que corretores estejam encontrando Cristo; e tenho certeza de que há alguns para quem o fato de haver artistas e produtores cristãos da Broadway também é um incentivo (há alguma faxineira cristã lá na Big Apple?);[4] e a participação ocasional de Tim Keller no Morning Joe[5] é um fenômeno interessante, embora um pouco inofensivo. Mas a cultura não está sendo transformada em nenhum ponto em que realmente seja importante, onde faça alguma diferença real para os pastores e as pessoas nas ruas, cada vez mais temos um mundo secular, à medida que procuram silenciosa e pacificamente serem fiéis ao Senhor. Se há alguma coisa ocorrendo, ela está acelerando na direção errada.
Isso não surpreende ninguém com alguma compreensão de história. Keller não é um Kuyper e não tem à sua disposição nenhum dos recursos institucionais, políticos ou culturais dos quais o holandês pudesse recorrer. E, para ser franco, Keller é atualmente o melhor divulgador dos transformacionistas. Não importa quantas vezes falamos um ao outro que nossos transformacionistas de celebridades estão progredindo, tais alegações são apenas uma propaganda delirante. Uma peça da Broadway e algumas belas pinturas não ajudam o homem que não consegue alugar espaço para adorar no Dia do Senhor. De fato, eu me pergunto se algum desses transformacionistas se questionou se o que estamos vendo não está de fato transformando abusos na cultura, no que seria o equivalente moderno de pão e circo projetados para engolir as trivialidades ingênuas – sem sentido, concedidas pela cultura mais ampla, isso não faz diferença real; onde e quando as apostas são mais altas e realmente valem a pena jogar, nenhum centavo é, ou será dado.
Certamente é hora de se tornar realista. É hora de abandonar o elitismo cultural que posa como uma significante transformação cristã da cultura, mas que só favorece, de fato, nada além de gostos e hobbies da classe média. É hora de olhar novamente para o ensino do Novo Testamento sobre a Igreja como um povo peregrino em que aqui não temos um lar duradouro. Os Salmos de lamento nos ensinam que é somente quando temos horizontes com uma expectativa realista é que seremos capazes de nos manter firmes contra o que está por vir. Se não entendermos isso agora, ficaremos muito desapontados num futuro próximo.
Dr. Carl Trueman é Paul Woolley Professor de História da Igreja no Westminster Theological Seminary e pastor da Cornerstone Presbyterian Church em Ambler, PA. Este artigo apareceu pela primeira vez na Reformation 21, e é usado com permissão.
NOTAS:
[1] Extraído de https://oldlife.org/2013/08/12/shouldnt-you-let-others-say-this/
[2] Refere-se à pessoa dedicada excessivamente ao trabalho.
[3] Presbyterian Church in America.
[4] A expressão Big Apple é um apelido da cidade americana de Nova Iorque, que se popularizou na década de 1970.
[5] O Morning Joe é um programa de entrevista nos EUA – https://www.msnbc.com/morning-joe
Traduzido por Ewerton B. Tokashiki
Sobre o autor: Carl Trueman
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