Sobre a mudança do shabat (descanso) do 7º para o 1º dia da semana
Por: Ageu Cirilo de Magalhães Jr.
Muitas pessoas perguntam: Onde está, na Bíblia, a base para a mudança do shabat (descanso) do 7º dia da semana para o 1º dia?
Quando lemos o Novo Testamento é visível esta mudança a partir da ressurreição de Cristo. Depois da ressurreição, a igreja passou a reunir-se no primeiro dia da semana, como forma de marcar o grande evento que foi a vitória de Cristo sobre a morte.
Isso foi tão forte que o primeiro dia da semana passou a ser chamado de Domingo (Dominus Dei – Dia do Senhor), como esclarece Simon Kistemaker, doutor em Novo Testamento:
“É o dia da ressurreição do Senhor, e no fim do século 1° os cristãos haviam começado a se referir a ele não como primeiro dia da semana, mas como dia do Senhor (compare com a expressão a ceia do Senhor, em 1Co 11.20). É o dia dedicado ao Senhor.” (Comentário de Apocalipse, Editora Cultura Cristã, p. 128).
Note que os principais eventos da era cristã aconteceram no domingo.
- Jesus ressuscitou em um domingo (Jo 20.1)
- Jesus apareceu a dez discípulos quando estavam reunidos em um domingo (Jo 20.19)
- Jesus apareceu a onze discípulos quando estavam juntos em outro domingo (Jo 20.26)
- O Espírito Santo desceu no dia de Pentecostes, que era um domingo (Lv 23.15, 16 – o dia imediato ao sábado), e nesse mesmo domingo o primeiro sermão sobre a morte e ressurreição de Cristo foi pregado por Pedro (At 2.14) com 3000 novos convertidos.
- Em Trôade os crentes se juntaram para adorar no domingo (At 20.7). E note que eles deixaram passar o sábado (v. 6), mas fizeram o culto no domingo.
- Paulo instruiu aos crentes para trazerem as suas contribuições no domingo, dia em que eles estavam juntos para cultuar (1Co 16.2).
- Jesus apareceu a João, em Patmos, em um domingo (Ap 1.10).
O testemunho da história da Igreja confirma a mudança. Os sabatistas costumam ensinar, erroneamente, que a Igreja Cristã só passou a cultuar no domingo a partir de um decreto do imperador romano Constantino, no 4º século. Contudo, observe as citações abaixo, todas anteriores a Constantino:
Barnabé (96/98 d.C.) - “Por fim, [o Senhor] lhes disse: ‘Não tolero vossos novilúnios e vossos sábados’ [Isaías 1,13]. Observai como disse: ‘Não aceito os vossos sábados de agora, mas aquele que Eu fiz, aquele em que, fazendo descansar todas as coisas, farei o início de um oitavo dia, isto é, o início de um outro mundo. Justamente por isso nós celebramos também o oitavo dia com regozijo, por ser o dia em que Jesus ressuscitou dentre os mortos e, depois de Se manifestar, subiu aos céus” (Epístola de Barnabé, 15.8)
Didaqué (65/80 d.C.) – “Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro. 2 Aquele que está brigado com seu companheiro não pode juntar-se antes de se reconciliar, para que o sacrifício oferecido não seja profanado. 3 Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: "Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque sou um grande rei - diz o Senhor - e o meu nome é admirável entre as nações". (Didaquê, 14.1)
Inácio de Antioquia (≅ 107 d.C.) – “1. Assim os que andavam na velha ordem das coisas chegaram à novidade da esperança, não mais observando o sábado, mas vivendo segundo o dia do Senhor, no qual nossa vida se levantou por Ele e por Sua morte, embora alguns o neguem. Mas é por êsse mistério, que recebemos a fé e por êle é que perseveramos, para sermos de fato discípulos de Jesus Cristo nosso único mestre. 2 Como pois poderemos viver sem Êle, a quem mesmo os Profetas, discípulos pelo Espírito, esperavam como Seu mestre? E foi por isso que Êle, em quem esperavam na justiça, os ressuscitou dos mortos, pela Sua presença.” (Epístola aos Magnésios, 9.1)
Justino Mártir (100-165 d.C.) – “3No dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se lêem, enquanto o tempo o permite, as Memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas. 4Quando o leitor termina, o presidente faz uma exortação e convite para imitarmos esses belos exemplos. 5Em seguida, levantamo-nos todos juntos e elevamos nossas preces. Depois de terminadas, como já dissemos, oferece-se pão, vinho e água, e o presidente, conforme suas forças, faz igualmente subir a Deus suas preces e ações de graças e todo o povo exclama, dizendo: "Amém". Vem depois a distribuição e participação feita a cada um dos alimentos consagrados pela ação de graças e seu envio aos ausentes pelos diáconos. 6Os que possuem alguma coisa e queiram, cada um conforme sua livre vontade, dá o que bem lhe parece, e o que foi recolhido se entrega ao presidente. Ele o distribui a órfãos e viúvas, aos que por necessidade ou outra causa estão necessitados, aos que estão nas prisões, aos forasteiros de passagem, numa palavra, ele se torna o provedor de todos os que se encontram em necessidade. 7Celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Com efeito, sabe-se que o crucificaram um dia antes do dia de Saturno e no dia seguinte ao de Saturno, que é o dia do Sol, ele apareceu a seus apóstolos e discípulos, e nos ensinou essas mesmas doutrinas que estamos expondo para vosso exame.” (Apologia 1, 67)
Tertuliano (160-220 d.C.) – “2. O Senhor dará a graça, a fim de que eles venham a ceder, ou então, sigam a sua opinião sem escandalizar os outros. Nós, porém, de acordo com a tradição que recebemos, somente no dia da ressurreição do Senhor evitamos não só ajoelhar-nos, mas também toda atitude ou ato de culto que exprima tristeza. E adiamos os nossos negócios, para não deixar ao diabo oportunidade alguma (cf. Ef 4,27).” (Da Oração, 23.2)
Concílio de Elvira (≅ 305 d.C.) – “Se eles cometem crimes sexuais após completar a penitência, que deve ser negado qualquer comunhão mais uma vez receber a comunhão seria fazer uma paródia da comunhão de domingo.” (Cânone 3)
“Se alguém que mora na cidade não frequenta serviços religiosos durante três domingos, deixe essa pessoa ser expulso por um breve tempo a fim de fazer o opróbrio público.” (Cânone 21)
“Se um cristão confessa o adultério com uma mulher judaica ou pagã, a ele é negada a comunhão durante algum tempo. Se o seu pecado é exposto por outra pessoa, ele deve completar a penitência cinco anos antes de receber a comunhão de domingo.” (Cânone 78)
Enfim, a mudança do dia do descanso, do 7º para o 1º dia da semana, o dia do Senhor, tem base bíblica e comprovação histórica. Não é por acaso que a esmagadora maioria das igrejas cristãs, de todos os tempos, guarda o domingo e têm nos seus catecismos e confissões históricos esta doutrina bem definida. Que Deus nos abençoe para que cumpramos o 4º mandamento com fidelidade e alegria.
Sobre o autor: Ageu Cirilo de Magalhães Jr.
Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição;
Bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie;
Mestre em Teologia Sistemática (M.Div.) pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper;
Mestrando em Liderança Cristã (M.A.) pelo CPAJ/Gordon College.
Blog: http://www.resistenciaprotestante.com.br/