Por que não delego a educação de meu filho a uma escolinha

Por: Ageu Cirilo de Magalhães Jr.

“O quê!? Seu filho não está na escolinha???” Eu e minha esposa (mais ela do que eu) ouvimos muito estas palavras, com pequenas variações. Temos três filhos. Um está com 8 anos, a do meio com 4 anos e o mais novo com 2 anos. O mais velho foi para a escola com 4 anos, mas a quantidade de pessoas que ficavam surpresas (e até indignadas) ao vê-lo com 3 anos fora de uma escolinha era grande. Tão grande que, sem muito exercício, fomos colecionando argumentos que, cremos, nos dão cada vez mais certeza de nossa decisão naquela época. Ei-los:

  1. Pais devem educar seus filhos, não estranhos. A Bíblia sempre atribui aos pais esta missão. Salomão relata como foi criado: “Quando eu era filho em companhia de meu pai, tenro e único diante de minha mãe, então, ele me ensinava e me dizia: Retenha o teu coração as minhas palavras; guarda os meus mandamentos e vive; adquire a sabedoria, adquire o entendimento e não te esqueças das palavras da minha boca, nem delas te apartes.” Pv 4.3-5
  2. Pais não devem trocar filhos por carreira profissional. Nosso mundo valoriza mais o “ter” do que o “ser” e os crentes devem ficar atentos para não seguirem o mesmo caminho. Não são poucos os pais que delegam a educação dos filhos a uma creche ou escolinha por causa de um salário. Novamente a advertência da Bíblia: “Pelo que aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se faz debaixo do sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento. Também aborreci todo o meu trabalho, com que me afadiguei debaixo do sol, visto que o seu ganho eu havia de deixar a quem viesse depois de mim.” (Ec 2.17,18) Um bom exercício para medir nossa ganância é se lembrar de qual era a renda de nossos pais, quando éramos crianças. Na maioria dos casos, estou certo, vamos perceber que eles ganhavam menos do que nós e, mesmo assim, não trocaram nossa educação por um salário.
  3. E quanto ao desenvolvimento que uma escolinha pode oferecer ao seu filho? Será que supera o desenvolvimento que os pais podem oferecer? Você já parou para pensar que a maioria das professoras das chamadas escolinhas são menores de 20 anos e estão no ensino médio? Uma mãe dedicada pode ensinar tudo o que se ensina em uma escolinha e muito mais. Hoje existem dezenas de materiais educativos, para todas as faixas etárias, que podem ajudar nisto, sem falar dos programas infantis educativos da TV. É até irônico encontrar mães com ensino superior, bem preparadas, delegando a educação de seus filhos a gente menos capacitada.
  4. A atenção que os pais dão a um ou dois filhos não se compara ao tratamento coletivo dado a uma multidão de pequeninos. Tenho uma prima que, ainda na adolescência, foi contratada para trabalhar em uma escolinha. Logo no início do trabalho, viu uma criança chorando e foi consolá-la pegando-a no colo. Sua superior a repreendeu imediatamente: “Aqui nós não fazemos isto, senão, todas vão querer o mesmo tratamento”. Outra parente próxima colocou a filha de 2 anos em uma escolinha e começou a notar a filha perdendo peso. Os pais foram conversar com a direção da escola e foram informados de que não davam leite às crianças, mas chá com bolacha…
  5. Por que colocar uma criança na tenra idade em uma escolinha e privá-la dos bons momentos de sua infância? Quando esta criança chegar aos 5, 6 anos, terá de ir obrigatoriamente à escola e entrará em um ritmo que só terminará, com sorte, na aposentadoria. O profeta vislumbrou um futuro para Jerusalém, com crianças fazendo o que lhes é próprio: “As praças da cidade se encherão de meninos e meninas, que nelas brincarão.” (Zc 8.5) Na parábola de Jesus, as crianças também estão na praça (Mt 11.16).
  6. Vírus físicos e espirituais. É sabido que crianças convivendo juntas em uma escolinha ou creche são mais suscetíveis a doenças por causa do ambiente comunitário. Mas, pior que isso é a influência pecaminosa que algumas crianças podem trazer de suas famílias, contaminando os valores que você passou ao seu filho, até matriculá-lo em um lugar assim. A Bíblia é muito clara neste ponto: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes.” (1Co 15.33)
  7. Infelicidade da mãe e da criança. Um bom número de mães sofre quando termina a licença maternidade e tem de voltar ao serviço. E o que dizer de uma criança que, depois de passar 4 meses ininterruptos com sua mãe, tem que enfrentar várias horas diárias de separação?
  8. O crente não deve ceder a pressões. No começo do artigo eu falei da quantidade de pessoas que estranhavam o fato de o nosso filho, com menos de 3 anos, não estar “ainda” em uma escolinha. Creio que esta pressão é geral sobre os pais. Todavia, o crente tem que se acostumar a nadar contra a correnteza. Crente fiel faz a vontade de Deus e não a vontade das pessoas ao seu redor. Isto, fazer a vontade das pessoas, é, em última instância, idolatria. É temer mais aos homens do que a Deus. O crente tem que se manter firme naquilo que Deus lhe ordena e não se conformar aos costumes e tendências pecaminosas e materialistas deste mundo (Rm 12.1,2).
  9. A educação prevista na Bíblia, especialmente em Deuteronômio 6, não pode ser delegada. Pergunto: Como inculcar em seu filho o conceito de que nosso Deus é o único Deus (v.4) livrando seu filho de qualquer tipo de idolatria, se você não está ao seu lado? Como ensinar seu filho a amar a Deus de todo o seu coração, alma e força (v.5) em cada minuto do dia, se ele está em uma escolinha? Quando o texto bíblico diz que estes ensinos devem ser inculcados “assentado em sua casa”, “andando pelo caminho”, “ao deitar-te e ao levantar-te” revelam que a educação cristã acontece em todos os momentos do dia, quando os pais interpretam cada pequeno acontecimento dentro de uma cosmovisão bíblica, formando, assim, nos filhos, uma visão de mundo de acordo com a Palavra de Deus. É possível esperar que uma escolinha faça isto?

Concluo com uma palavra aos pais que sofrem as mesmas pressões que nós sofremos: Aguentem firme! Jesus nunca disse que seria fácil. O mundo nos odeia porque não somos dele (Jo 5.18,19) nem seguimos seu padrão de comportamento. A recompensa de uma educação não delegada a terceiros virá. Pense no testemunho de alguns jovens da Bíblia como José do Egito, Daniel e seus amigos, Davi e imagine o tipo de educação que eles receberam de seus pais. Podemos colher os mesmos frutos, se ficarmos fiéis aos ensinos do Senhor. Que Ele nos abençoe.



Sobre o autor: Ageu Cirilo de Magalhães Jr.

Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição;
Bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie;
Mestre em Teologia Sistemática (M.Div.) pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper;
Mestrando em Liderança Cristã (M.A.) pelo CPAJ/Gordon College.

Blog: http://www.resistenciaprotestante.com.br/

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Tag: Teologia Pastoral

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Última atualização: 27/07/2021 6:37:00



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