Os 5 Artigos do Arminianismo 1610

Por: Philip Schaff

Introdução

O documento foi escrito pelo grupo dos remonstrantes, em 1610. O seu título holandês é De Remonstrantie en het Remonstrantisme [O protesto do protestantismo] e o latim trás Articuli Arminiani sive Remonstrantia [Os artigos arminianos com protesto]. Deve-se ter o cuidado de discernir que o termo “protestante” não é usado em seu significado comum. Diferente de como historicamente o termo “protestante” é usado, ou seja, uma reação contra a doutrina da Igreja Católica Romana, o partido arminiano protestava contra a posição teológica oficial do estado holandês, que era o Calvinismo.

Estou disponibilizando a tradução de Os 5 Artigos do Arminianismo para que estudantes de teologia tenham acesso ao conteúdo teológico essencial dos remonstrantes. Estou escrevendo um pequeno livro em que ofereço o contexto histórico e teológico da controvérsia que deu origem aos Arminianismo, se Deus quiser, pretendo publicá-lo. Aos que desejam ler a resposta calvinista que o Sínodo de Dort ofereceu aos remonstrantes acesse aqui.

Segue abaixo o texto dos arminianos traduzido na íntegra.[1]

Artigo 1 – A eleição realizada com base na presciência[2]

Que Deus, pelo propósito eterno e imutável em seu Filho Jesus Cristo, desde antes da fundação do mundo, Ele determinou a respeito da raça humana pecadora e caída, salvar em Cristo, pelo amor de Cristo e, através de Cristo, a quem, pela graça do Espírito Santo, crerão em seu Filho Jesus e perseverarão nesta fé e obediência da fé, por meio desta graça, até o final; e, por outra parte, deixar aos incorrigíveis e incrédulos no pecado e sob a ira, condená-los como alienados de Cristo, de acordo com a palavra no Evangelho de João 3:36: “O que crê no Filho tem a vida eterna; mas, o que se recusa a crer no Filho não verá a vida, senão que a ira de Deus permanece sobre ele”, e, também de acordo com outras passagens das Escrituras.

Artigo 2 – A expiação ilimitada

Que, de acordo com isto, Jesus Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos e cada um dos homens, de modo que, por sua morte na cruz, obteve para todos eles a redenção e o perdão dos pecados; ainda que, ninguém que não seja crente na realidade desfruta deste perdão, de acordo com João 3:16: “porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna.” E, em 1 João 2:2: “e, é a propiciação por nossos pecados; e, não somente pelos nossos, mas também pelos do mundo todo.”

Artigo 3 – A incapacidade natural

Que o homem não tem a graça salvadora por si mesmo, nem pela energia do seu livre arbítrio, no entanto, como ele, em estado de apostasia e pecado, não é capaz dele e por ele mesmo pensar, desejar, nem mesmo fazer coisa alguma que seja realmente boa (tal como eminentemente é a fé salvadora); mas, que lhe é necessário nascer de novo de Deus em Cristo, por meio do Espírito Santo e, renovar o entendimento, inclinação ou vontade e todos os seus poderes, para que possa entender, pensar, desejar e efetuar corretamente o que é verdadeiramente bom, de acordo com a Palavra de Cristo em João 15:5: “separados de mim, nada podeis fazer.”

Artigo 4 – A graça preveniente

Que esta graça de Deus é o princípio, continuidade e alcance de todo o bem, até o ponto em que o homem regenerado, sem a graça preveniente ou assistida, que desperta, continue e coopere, não pode pensar, desejar, nem fazer o bem e muito menos resistir as tentações do mal; de modo que, todas as obras e movimentos que se podem conceber são atribuídas à graça de Deus em Cristo. Mas, acerca do modo de como opera esta graça, não é irresistível, pois, está escrito acerca de muitos que resistiram ao Espírito Santo. Atos 7 e, também, em muitos outros lugares.

Artigo 5 – A perseverança condicional

Aqueles que são incorporados em Cristo pela fé verdadeira e com ela se fizeram partícipes de seu Espírito doador da vida, tem por essa razão pode completo para lutar contra Satanás, o pecado, o mundo e sua própria carne e, obter a vitória; entende-se bem que isto é sempre através da graça da assistência do Espírito Santo; e, que Jesus Cristo sempre os assiste em todas as suas tentações por meio de seu Espírito, estendendo-lhes a sua mão, e, se estão preparados para o conflito e, desejam o seu auxílio, e não estão inativos, [Cristo] os guarda de cair, de modo que, nem pela artimanha ou poder de Satanás, eles não se desviem, nem sejam arrebatados das mãos de Cristo, de acordo com a sua Palavra em João 10:28: “ninguém as arrebata de minha mão.” Mas, se eles são capazes por causa de sua negligência de esquecer dos começos de sua vida em Cristo, de retornar a este presente mundo mal, de apostar-se da sã doutrina que os libertou, de perder a boa consciência, de cair desprovidos da graça, e isto pode-se determinar mais particularmente pelas Santas Escrituras, antes do que ensinemos com a persuasão completa de nossas mentes.

Estes artigos que, afirmam e ensinam, os remonstrantes considerando estar de acordo com a Palavra de Deus, idôneos para edificar, e apreciando este argumento como suficiente para a salvação, de modo que, eles não são necessários ou edificante para um ascensão mais alta, ou mais inferior.

NOTAS:

[1] Para a tradução dos 5 Artigos Arminianos recorri à tradução inglesa de Philip Schaff, The Creeds of Christendom (Grand Rapids, Baker Books, 2007), vol. 3, pp. 545-549. Schaff registra em colunas paralelas o texto holandês a partir da primeira edição de 1612, o texto latino da edição de 1616, e numa terceira coluna a sua tradução em inglês. Também revisei a partir de outra tradução de inglês moderno por Peter Y. De Jong, ed., Crisis in the Reformed Churches – Essays in Commemoration of the Great Synod of Dort 1618-1619 (Granville, Reformed Fellowship, Inc., 2008), pp. 243-245. Homer Hoeksema oferece uma tradução do holandês em seu livro The voice of our fathers – an exposition of the Canons of Dordrecht (Grand Rapids, Reformed Free Publishing Association, 1980), pp. 10-14.

[2] Os títulos de cada artigo não fazem parte do texto original, apenas os acrescentei para indicar o seu conteúdo.

Tradução, introdução e notas por Ewerton B. Tokashiki



Sobre o autor: Philip Schaff

Philip Schaff (Chur, 1 de janeiro de 1819 - 20 de outubro de 1893), foi um teólogo protestante e historiador da igreja cristã.

Nascido na Suíça, Schaff completou seus estudos no ginásio de Stuttgart e nas universidades de Tübingen, Halle e Berlim, na Alemanha, tendo depois se mudado para os Estados Unidos, onde lecionou.

Um evento que moldou sua piedade ao longo de sua vida foi um avivamento que ele experimentou aos 15 anos de idade na Congregação dos Irmãos Evangélicos em Korntal.

Nas escolas alemãs, foi sucessivamente influenciado por Baur e Schmid, por Augusto Tholuck (1799.1877) e Julius Müller, por David Friedrich Strauss e, principalmente, por Neander. Em seguida, viajou através da Itália e Sicília como tutor do Barão Krischer. Em 1842, ele foi Privatdozent na Universidade de Berlim, e em 1843, foi chamado para se tornar professor de história eclesiástica e literatura bíblica no Seminário Teológico da Reforma Alemã, em Mercersburg, Pensilvânia, o único seminário daquela igreja nos Estados Unidos.

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Tag: Teologia Reformada

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Última atualização: 21/07/2021 6:43:00



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