DOIS PONTOS SOBRE O CRISTÃO E AS DIFICULDADES EM TEMPOS MODERNOS

Por: Daniel L. Petersen

1 PONTO: A CULTURA PÓS-MODERNA

“Cultura é a expressão da religião de um povo na conquista da natureza e na realização de seu chamado na Terra” Henry R. Van[1].

Entende-se como tempos modernos, a atual cultura de nosso tempo ou aquilo que conhecemos como pós-modernismo[2]. O movimento pós-moderno tem em seu cerne a ideia de ser contrária ao que conhecemos por cosmovisão, ou seja, não há uma cosmovisão no objetivo do pós-modernista, sendo relativo qualquer verdade universal (é seu papel principal, negá-la). Desta maneira, a interpretação de todos os aspectos que formam o conhecimento, está centrada na experiência pessoal do indivíduo, sendo assim, não há absolutos em nenhuma área para o pós-modernista.

Na visão pós-moderna, a moral por exemplo, é particular e individual, desta forma o ser “politicamente correto” está tomando o pensamento de grande parte da humanidade, fazendo do conhecimento humano, a resposta para todos os problemas do mundo. Deste modo, aquele conhecimento extraído dos conceitos científicos, da lógica, história e moral, deixam de ser meios de conhecimento válidos e de maneira geral, prevalece o conhecimento pessoal, relacionado e obtido especificamente na particularidade de cada um indivíduo e isso pode ser aplicado também a alguma região, crença ou comunidade específica. Nessa cultura, o sentimentalismo está acima de qualquer pensamento racional, lógico ou científico. Como resultado, temos o pensamento relativista se tornando a principal fonte de "conhecimento" mesmo sendo ela incerta e em muitos casos irracionais em suas práticas.

Encontramos no pós-modernismo, uma grande quantidade de tipos de cultura que toma conta do nosso cotidiano entre elas o multiculturalismo[3] como a cultura de gêneros, cultura do aborto, o movimento do politicamente correto, etc.

Resumimos o conceito do pós-modernismo com a pergunta central: O que é verdade para a cultura pós-moderna?

A verdade, nessa realidade, está ligada à experiência subjetiva e pessoal, ou seja, aquilo que pela própria perspectiva funciona (pragmatismo) e traz bem-estar (tipo de hedonismo), individualmente ou de alguma forma para o coletivo.

2 PONTO: OS NEO-ORTODOXOS OU NEO-LIBERAIS

 Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. 2 Timóteo 3:16-17

Entende-se como neo-ortodoxos, os teólogos que não recebem de alguma forma a Escritura como infalível, inerrante e inspirada em sua totalidade por Deus. Um dos pontos cridos, é que na grande maioria das vezes, pelo fato de homens terem escrito a Bíblia, ela contém diversos erros, sendo somente infalível na área espiritual. No meio disso, estão também os neoliberais. Essas duas correntes, misturam-se em muito as teologias atuantes no meio evangélico de hoje e por isso, as trataremos como co-iguais. Muitas vezes, elas são quase imperceptíveis, inclusive em igrejas históricas, mas há muito em comum entre elas, é nas suas práticas cristãs que acaba-se por definir quem são os neo-ortodoxos e neoliberais, isso por meio da forma que evidenciam sua fé cristã, como a vivem e a praticam.

Muito das conquistas da Reforma Protestante foram sintetizadas nos Solas, e por meio delas, os reformadores definiram os princípios fundamentais do Cristianismo. Um dos erros dessas correntes é a forma da descrença na Sola Scriptura, onde (segundo os neo-ortodoxos), cabe ao homem a interpretação correta das porções nas quais definem-se o que é Palavra de Deus e o que são apenas os registro históricos de um povo, como a exemplo de uma literatura qualquer.

Além disso, a relatividade da verdade encontrada na cultura pós-modernista, é atuante neste meio, pois toleram todas as formas em que se pode aplicar o politicamente correto, não condenando o que a escritura acusa como pecado. As falsas-verdades da cultura pós-moderna permeia e relacionasse com o pensamento e a prática cristã neo-ortodoxo/neoliberal. Como exemplo, temos os casamentos homosexuais, as propostas da cultura do aborto, o feminismo, o inferno não existe,etc.

Outro ponto importante a se destacar dos participantes desses grupos, está no fato de buscarem uma unidade em todas as religiões, na qual entendem todas possuírem uma porção de verdade e desta forma, o deus destes, não é em aspecto algum diferente do deus (es) de outras religiões. O ponto principal está no fazer Deus ser agradável a vontade pecaminosa do homem e a prática do culto passa desta forma, ser inteiramente direcionada ao pecador pois nesse caso, é o amor de Deus, a base de toda a teologia neo-ortodoxa/neoliberal. Certamente onde não se crê no único merecimento certo ao homem (a separação do seu criador na queda de Adão e como consequência da corrupção humana o justo merecimento do inferno), o pragmatismo reina. É muito comum aos liberais, frases do tipo: Jesus ti ama! Onde na verdade, esquecem de declarar a verdadeira mensagem do Evangelho ao mundo. A sua forma de fé está longe de ser Cristocêntrica, e mais, percebe-se as veias do socialismo (e todos os ismos que se pode relacionar) em busca da comunhão (a qualquer preço) dos homens. O amor ao próximo perdeu-se no abismo do âmbito social, e o verdadeiro amor de Deus por meio de seu filho a humanidade perdida, foi trocada pelo empenho pessoal de glorificar-se a criatura antes que ao criador.

A ANTÍTESE A ESSES PONTOS

Deus revela-se ao homem demonstrando por meio da criação do seu reino e através da sua palavra (Bíblia) as verdades universais que sustentam o cosmo e a vida, as quais encontram-se registradas de Gênesis a Apocalipse.

Em nossa cultura cristã, o que rege a vida são as verdades que provém unicamente de Deus. A Palavra de Deus então é para o cristão autoridade única e referencial perfeito. Entendemos que seria impossível ao homem conhecer a si mesmo, sem antes o Senhor nosso Deus, não revelasse a si mesmo e sua vontade para conosco e dessa forma tivéssemos comunhão com Ele. Na criação, Deus manifestou o que requeria do homem, e isso é conhecido como mandado cultural.

No mandado cultural, Deus provê toda a possibilidade de sustentação ao homem, por meio de sua soberana vontade e de todas as leis que Ele criou para reger seu reino cósmico.

O trabalho é o papel essencial ao homem e por meio desse mandado, as atividades exercidas, atendem as expectativas exigidas pelo criador. Por sermos criados a imagem de Deus, o homem exerce seu papel no reino de modo que a cultura reflete em todos os aspectos a aliança entre Deus e o homem[4].

O conceito de cultura para o Cristão, deve sempre ser aquela que provem da Santa Escritura e por meio dela, refletir a todos os aspectos da nossa relação com Cristo.

 Ao que percebe-se, certamente que o Evangelho vivido por esses grupos, em muito são diferentes daquele que Cristo nos ensina. É certo que há pessoas compromissadas com alguns pontos do cristianismo, mas o fato de rejeitarem grande parte das verdades e em muito casos, nem acreditam na possibilidade de haver alguma real verdade reflete a "categoria" e "identidade" ideológica do gupo no qual fazem parte.

Finalizando, embora o amor ao próximo seja uma ordenança da Lei do nosso Deus, as obras não são o meio de salvação (apesar dessa turma, acreditar que é), mas, resultado da verdadeira conversão. Não podemos supervalorizar as obras e esquecer da centralidade das verdades que emanam da Escritura. Creio ter pessoas sérias envolvidas em grandes obras sociais e a muito ajudam, mas, estamos tratando exatamente da disposição correta do coração para tais obras. O Cristianismo não pode ser confundido com o Socialismo (ou com qualquer tipo de ismos) que nos remeta a qualquer condição fora daquilo que a Escritura graciosamente nos ensina.

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[1] O conceito Calvinista de cultura. São Paulo, Cultura Cristã; 2010. Pag.187.

[2] O termo “pós-modernismo” teve sua origem na Espanha na década de 1930. Perry Anderson em “As Origens da Pós-Modernidade” (1999), aponta ter sido, Frederico de Onís, o primeiro a usar o termo pela primeira vez. Mas foi o filósofo francês Jean – François Lyotard, com a publicação “A Condição Pós-Moderna” (1979).

[3] Multiculturalismo, ou pluralismo cultural, é um termo que descreve a existência de muitas culturas numa região, cidade ou país, com no mínimo uma predominante. Wikipédia.

[4] Leia Gênesis 1 e 2, observando Deus exercendo a criação dentro do contexto do trabalho e na sequência, o função do homem no trabalho do Reino de Deus.


Referências:

Bíblia Sagrada, Revista e Atualizada.

BENTON, John. Artigo: Pós-Modernismo e o Culto ao Indivíduo.  http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/pos-modernismo_benton.pdf. Acessado em 05/03/2017.

CAMPOS, Héber. Artigo: O Pluralismo do Pós-Modernismo.  http://www.monergismo.com/textos/hermeneuticas/hermeneutica_heber.htm. Acessado em 05/03/2017.

CRUZ, Daniel Nery da. Artigo: A Discussão Filosófica da Modernidade e da Pós-Modernidade.  http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/revistalable/3_DANIEL_NERY_DA_CRUZ.pdf. Acessado em 05/03/2017.

DEMAR, Gary. Artigo: Definindo o Pós-Modernismo.  Disponível em http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/def-posmodernismo_demar.pdf. Acessado em 05/03/2017.

JUNIOR, John MacArthur. Artigo: A Lógica do Pós-Modernismo. Disponível em http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/logica-posmodernismo-war_john-macarthur.pdf. Acessado em 05/03/2017.

SOUZA, Ricardo Barbosa de Souza. Artigo: A Pós-Modernidade e a Singularidade de Cristo.Disponível em http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/pos_modernidade_singularidade_cristo.htm. Acessado em 05/03/2017.



Sobre o autor: Daniel L. Petersen

Gaúcho de São Leopoldo, casado com Liviane Garcia a mais de 12 anos. Pai das gêmeas Júlia e Rebeca, Cristão Reformado, membro da Igreja Presbiteriana Aliança Reformada. Apaixonado por aprender e ensinar. Graduado em Gestão de Tecnologia da Informação pela Faculdade UNIP Porto Velho e Licenciatura em Geografia pelo UniBF. Na áre de Tecnologia: Pós Graduado em Redes e Segurança da Informação pela Faculdade Porto Velho e Eng. de Software pela IPB (Instituto Pedagógico Brasileiro). Na área da Educação: Pós Graduado pelo Instituto Pedagógico Brasileiro nos cursos de Metodologia do Ensino da História e da Geografia, História do Brasil, Tutoria em Educação a Distância e Ensino Religioso. Na área Teológica: Pós Graduado no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper em Estudos Teológicos. Participou como professor nas classes de Catecúmenos, Panorama do Novo Testamento e Cosmovisão Cristã na EBDF na 1ª IPB Porto Velho. Atualmente Profº da Classe de Catecúmenos na Igreja Local.

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Última atualização: 21/11/2017 0:02:19



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