Carta de João Calvino a Francis Daniel [1532]
Por: João Calvino
CARTA 6 - CALVINO ENVIA CÓPIAS DO TRATADO "DE
CLEMENTIA" A VÁRIAS PESSOAS - PROCURA
POR RESIDÊNCIA EM PARIS.
PARIS, [1532]
Suas duas cartas que chegaram até mim tratam quase do mesmo assunto, e quase com as mesmas palavras. Atendi seu pedido acerca das Bíblias, cuja aquisição demandou mais necessidade de arrumar alguns problemas do que dinheiro. Quando eu empacotar minhas coisas eu vou colocá-las junto com a minha bagagem. O caso é daquele tipo que suponho poder ser adiado até aquele momento. Quanto ao resto, você tem que me ajudar por sua vez.
Os Livros de Sêneca sobre a Clemência estão finalmente impressos: eles são de meu próprio custo e trabalho.[1] O dinheiro que foi gasto deve ser agora recolhido de todas as mãos. Além disso, eu preciso cuidar que o meu crédito esteja seguro. Escreva-me assim que puder, e faça-me saber como foram recebidos, se com favor ou frieza, e tente também convencer Landrin a palestrar sobre eles. Eu envio uma cópia para você; você pode se responsabilizar pelos outros cinco, que devem ser encaminhados a Bourges para Le Roy, Pigney, Sucquet, Brosse, Baratier? Se Sucquet puder aceitá-lo com o propósito de palestrar, será de grande ajuda pra mim. Adeus.
Eu não tenho nada a escrever para Duchemin, visto que muitas vezes eu perguntei e ele não enviou-me nenhuma resposta, nem me propus a minha viagem até que ele escreva. O que importa se por alguns dias eu tiver que tremer de frio, até encontrar uma hospedaria onde repousar o corpo! Quanto a Coiffart, o que mais posso dizer, exceto que ele é um sujeito egoísta? – Mais uma vez, adeus.
Lembranças a sua mãe e a sua tia.
[Cópia Latina — Biblioteca de Berna. Volume 450.]
Extraído de Letters 1528-1545 - Selected Works of John Calvin (Albany, Ages Software, 1998), vol. 4, p. 38.
Tradução em 25 de Maio de 2014.
NOTAS:
[1] Este é o livro com o título de L. Annaei Senecae Libri 2, de Clementia, ad Nero Caesarem, Commentariis Illustrati. Publicado em Paris, 1532. Calvino dedicou esta obra ao seu colega de estudos Claude de Hangest, membro da ilustre família de Mornmot, que se tornou become o Abade de St. Eloy em Nyon. A epístola de dedicatória é datada de Paris, em 4 de Abril de 1532. Nota de Ewerton B. Tokashiki.
Tradutor: Rev. Antônio dos Passos Pereira Amaral, ministro presbiteriano, pastor efetivo na Igreja Presbiteriana de Lagoa Santa; professor de teologia e hermenêutica na Escola Bíblica Central do Brasil/Lagoa Santa-MG; Bacharel em Teologia e Missiologia pela Escola Superior de Teologia e Estudos Transculturais/Montes Claros-MG (2003), Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/São Paulo-SP (2013), cursando Mestrado (MDiv) em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper/SP.
Revisado por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
Fonte: REFORMADOS DO SÉCULO XVI
Sobre o autor: João Calvino
João Calvino (Noyon, 10 de julho de 1509 — Genebra, 27 de maio de 1564) foi um teólogo cristão francês. Aos 14 anos foi estudar em Paris preparando-se para entrar na universidade. Estudou gramática, filosofia, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música. Em 1523 foi estudar no famoso Colégio Montaigu. Em 1528, com 19 anos, iniciou seus estudos em Direito e, depois, em Literatura. Em 1532 escreveu seu primeiro livro, um comentário à obra De Clementia de Sêneca. Em 1533, na reabertura da Universidade de Paris, escreveu um discurso atacando a teologia dos escolásticos e foi perseguido. Possivelmente foi neste período 1533-34 que Calvino se converteu, por influência de seu primo Robert Olivétan.
Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, que continua até hoje. Portanto, a forma de protestantismo que ele ensinou e viveu é conhecida por alguns pelo nome calvinismo, embora o próprio Calvino tivesse repudiado contundentemente este apelido. Esta variante do protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.
Nascido na casa dele , ao norte da França, foi batizado com o nome de Jehan Cauvin. A tradução do apelido de família "Cauvin" para o latim Calvinus deu a origem ao nome "Calvino", pelo qual se tornou conhecido. Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja Católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça.[1]
Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Para muitos historiadores, Calvino terá sido para o povo de língua francesa aquilo que Lutero foi para o povo de língua alemã - uma figura quase paternal. Lutero era dotado de uma retórica mais direta, por vezes grosseira, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado e geométrico, quase de filigrana.
Segundo Bernard Cottret, biógrafo francês de Calvino: "Quando se observa estes dois homens podia-se dizer que cada um deles se insere já num imaginário nacional: Lutero o defensor das liberdades germânicas, o qual se dirige com palavras arrojadas aos senhores feudais da nação alemã; Calvino, o filósofo pré-cartesiano, precursor da língua francesa, de uma severidade clássica, que se identifica pela clareza do estilo".