O Jansenismo
Por: Ewerton B. Tokashiki
O movimento católico jansenista tentou reavivar a soteriologia agostiniana. As suas ênfases teológicas se concentravam nas doutrinas da graça buscando uma maior coerência do que os jesuítas, em seu semipelagianismo, tinha alcançado ao fundir as doutrinas de Agostinho e Pelágio. Todavia, os jansenistas não obtiveram resultados expressivos e permanentes dentro da Igreja Católica Romana.
Cornelius Otto Jansenius (1585-1638 d.C.), bispo de Ypres, de origem holandesa, morreu em 1638, deixando um legado teológico de grande importância. A sua obra histórico-teológica Augustinus que somente foi publicada em 1640, e estudada em Port Royal por Antoine Arnauld, Le Maistre e Blaise Pascal trouxe um importante impacto na vida destes pensadores. N.V. Hope observa que
Jansen já se interessava pelo pensamento religioso de Agostinho, desde seus dias de estudante. No início da década de 1620, vindo a crer que a teologia agostiniana da graça predestinadora eficaz estava sendo ameaçada pelas tendências humanistas dos teólogos jesuítas da Contra-Reforma, lançou-se a um estudo intensivo das obras de Agostinho, principalmente seus escritos antipelagianos.[1]
O livro Augustinus sofreu forte perseguição. A Inquisição proibiu a sua leitura em 1641. O papa Urbano VIII, em 1643, condenou o livro em sua bula In eminenti. Mas a sua leitura continuou nas universidades católicas, obtendo muitos simpatizantes.
Os jesuítas acusaram os jansenistas de adotarem uma forma de calvinismo.[2] A acusação formal baseou-se nos escritos de Arnauld[3], que era discípulo de Jansênio. Destes escritos os jesuítas extraíram cinco proposições teológicas. Abaixo segue as chamadas Cinco Proposições do Jansenismo:[4]
Alguns mandamentos de Deus aos homens, que querem e se esforçam para ser justos, são impossíveis para as forças presentes que possuem e falta-lhes a graça pela qual se tornariam possíveis.
A graça interior não pode ser resistida no estado da natureza caída.
Para o mérito e o demérito no estado da natureza caída não se requer a liberdade de necessidade, mas somente a liberdade de coação.
Os semipelagianos admitem a graça interior preveniente para todos os atos individuais, mesmo para o começo da fé; nisto eles são hereges porque querem que a graça seja de modo a que a vontade humana lhe possa resistir ou obedecer.
É semipelagiano dizer que Cristo morreu e derramou seu sangue por todos os homens.
Estas cinco proposições foram condenadas pelo papa inocêncio X, em 1653, na bula Cum Occacione. Em 1709 o convento Port Royal foi fechado e seus ocupantes dispersos.
O papa Clemente XI, em 1713, na bula Unigenitis Dei Filius condenou 101 das sentenças dos escritos dos teólogos jansenistas. Muitos monges jansenistas foram condenados à morte e outros fugiram para os Países Baixos por encontrarem ali liberdade para expressarem seus pensamentos.[5]
Os jansenistas na Holanda nomearam um arcebispo cismático, em 1723, na cidade de Utrecht. Este grupo existe até os dias de hoje, tornando-se parte da Igreja Católica Antiga na metade do século XIX.
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NOTAS:
[1] N.V. Hope, Janse, Cornelius Otto, in: Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1992), vol. 2, p. 358.
[2] Justo L. Gonzalez, Uma História do Pensamento Cristão – Da Reforma Protestante ao Século 20 (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 2004), vol. 3, p. 238.
[3] Arnauld era irmão de Mère Angelique, superiora do convento de Port Royal.
[4] Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã (São Paulo, ASTE, 2001), p. 375
[5] Paul K. Jewett, Elección y Predestinacción (Jenison, TELL, 1992), p. 28
Sobre o autor: Ewerton B. Tokashiki
Pastor na Igreja Presbiteriana de Cerejeiras (2000-2005 [6 anos]); na Primeira Presbiteriana de Porto Velho (2006-20016 [11 anos])
Leciono disciplinas teológicas desde 1998 em diferentes instituições
Assistente de direção e bibliotecário no Seminário Teológico Presbiteriano JMC [2017-2018]
Pastor na Primeira Igreja Presbiteriana de Teófilo Otoni [2019]
Escritor e tradutor
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