Carta de João Calvino para Francis Daniel [1532]
Por: João Calvino
CARTA 5 - PRIMEIRO TRABALHO DE CALVINO — COMENTÁRIO SOBRE O TRATADO SÊNECA, "DE CLEMENTIA"
PARIS, 23 de Maio de 1532.
Bem, enfim a sorte está lançada. Meus comentários sobre os livros de Sêneca, "De Clementia",[1] foram impressos, mas com meus próprios recursos, e me levou mais dinheiro do que você bem pode imaginar. No momento, estou empregando todo esforço para conseguir um pouco de volta. Tenho despertado alguns dos professores desta cidade para fazer uso deles em palestras. Na Universidade de Bourges convenci um amigo a fazer isso a partir do púlpito por meio de uma palestra pública. Você também poderia me ajudar um pouco, se você não me entender mal; faça-o em nome de nossa velha amizade; visto especialmente, sem qualquer dano à sua reputação, que você pode me prestar este serviço, e que talvez também tenda a ser de benefício público. Se você se dispuser a prestar-me este benefício, vou enviar-lhe cem cópias, ou tantas quantas você desejar. Enquanto isso, aceite esta cópia, mas sem supor que ao aceita-la, eu estarei forçando você a fazer o que eu peço. É meu desejo que tudo esteja bem e sem constrangimentos entre nós. Adeus e permita-me em breve ouvir de você. Escrevi recentemente ao Pigney, mas ele ainda não respondeu. Ao Brosse escrevi há muito tempo, mas desta vez não obtive nenhuma resposta. Ele, que dará a Le Roy sua cópia, com certeza o saudará.
[Cópia Latina — Biblioteca de Berna. Volume 450]
Extraído de Letters 1528-1545 - Selected Works of John Calvin (Albany, Ages Software, 1998), vol. 4, p. 37.
Tradução em 7 de Maio de 2014.
NOTAS:
[1] Este é o livro com o título de L. Annaei Senecae Libri 2, de Clementia, ad Nero Caesarem, Commentariis Illustrati. Publicado em Paris, 1532. Calvino dedicou esta obra ao seu colega de estudos Claude de Hangest, membro da ilustre família de Mornmot, que se tornou become o Abade de St. Eloy em Nyon. A epístola de dedicatória é datada de Paris, em 4 de Abril de 1532. Nota de Ewerton B. Tokashiki.
Tradutor: Rev. Antônio dos Passos Pereira Amaral, ministro presbiteriano, pastor efetivo na Igreja Presbiteriana de Lagoa Santa; professor de teologia e hermenêutica na Escola Bíblica Central do Brasil/Lagoa Santa-MG; Bacharel em Teologia e Missiologia pela Escola Superior de Teologia e Estudos Transculturais/Montes Claros-MG (2003), Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/São Paulo-SP (2013), cursando Mestrado (MDiv) em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper/SP.
Revisado por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
Fonte: REFORMADOS DO SÉCULO XVI
Sobre o autor: João Calvino
João Calvino (Noyon, 10 de julho de 1509 — Genebra, 27 de maio de 1564) foi um teólogo cristão francês. Aos 14 anos foi estudar em Paris preparando-se para entrar na universidade. Estudou gramática, filosofia, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música. Em 1523 foi estudar no famoso Colégio Montaigu. Em 1528, com 19 anos, iniciou seus estudos em Direito e, depois, em Literatura. Em 1532 escreveu seu primeiro livro, um comentário à obra De Clementia de Sêneca. Em 1533, na reabertura da Universidade de Paris, escreveu um discurso atacando a teologia dos escolásticos e foi perseguido. Possivelmente foi neste período 1533-34 que Calvino se converteu, por influência de seu primo Robert Olivétan.
Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, que continua até hoje. Portanto, a forma de protestantismo que ele ensinou e viveu é conhecida por alguns pelo nome calvinismo, embora o próprio Calvino tivesse repudiado contundentemente este apelido. Esta variante do protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.
Nascido na casa dele , ao norte da França, foi batizado com o nome de Jehan Cauvin. A tradução do apelido de família "Cauvin" para o latim Calvinus deu a origem ao nome "Calvino", pelo qual se tornou conhecido. Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja Católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça.[1]
Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Para muitos historiadores, Calvino terá sido para o povo de língua francesa aquilo que Lutero foi para o povo de língua alemã - uma figura quase paternal. Lutero era dotado de uma retórica mais direta, por vezes grosseira, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado e geométrico, quase de filigrana.
Segundo Bernard Cottret, biógrafo francês de Calvino: "Quando se observa estes dois homens podia-se dizer que cada um deles se insere já num imaginário nacional: Lutero o defensor das liberdades germânicas, o qual se dirige com palavras arrojadas aos senhores feudais da nação alemã; Calvino, o filósofo pré-cartesiano, precursor da língua francesa, de uma severidade clássica, que se identifica pela clareza do estilo".