Carta de João Calvino à  Francis Daniel [1530]

Por: João Calvino

CARTA 4 - PARA FRANCIS DANIEL

INTELIGÊNCIA DOMÉSTICA — PARTIDA PARA A ITÁLIA DO
IRMÃO DE FRANCIS DANIEL.


DE ACRÓPOLES, 15 de janeiro de 1530[1]

Não estava em meu poder responder mais cedo à carta do seu irmão Robert, porque só foi entregue a mim por volta de meados de novembro, e pouco depois tive que empreender uma viagem de duas semanas. A doença do mensageiro, o qual caiu de cama por doze dias com uma perigosa queixa em Lyons, dificultou que a carta chegasse a mim mais cedo.

Enquanto isso, o tempo certo tinha passado; com o passar da estação, e eu não tive oportunidade de despachar uma carta. Em relação ao seu irmão, o problema é o seguinte: — eu procurei, de todas as formas, induzi-lo a permanecer conosco. Quando eu verifiquei que ele tinha precipitadamente e sem qualquer razão suficiente desistido disto, ou resolvido contra isto, pensei que devia convencê-lo a retornar para casa; e como ele às vezes tinha dito que qualquer tentativa deste tipo seria em vão, eu pensei melhor, para o momento, em ceder, até que o calor tivesse diminuido alguns graus. Quando me pareceu que ele tinha de alguma maneira caido em si, de repente, enquanto este passo jamais tenha por minha mente, ele fugiu para a Itália. Eu estava esperando por ele e seu colega para o jantar, porque aquele tempo tinha sido combinado para tocarmos no assunto. Eles não apareceram. Quando durante todo o dia, eles não apareceram, comecei a suspeitar nem sei o que. Numa consulta à Pousada, foi trazida uma mensaagem de volta de que ele já tinha ido embora. Peter, a quem você conheceu, e que tinha acompanhado eles por uma milha ou mais, voltou para casa cerca de 4 horas. Portanto, se algo aconteceu contrário à sua vontade e dos seus parentes, você não deve me culpar, porque fiz o máximo para que ele não pudesse se afastar mais de você, contra sua vontade.

Adeus; dê lembranças a todos. Que o Senhor guarde todos vocês, especialmente sua família.

Você pode assumir a responsabilidade de entregar a carta para minha irmã Mary Du Marais?


[Cópia Latina. — Biblioteca de Berna. Volume 450.]
Extraído de Letters 1528-1545 - Selected Works of John Calvin (Albany, Ages Software, 1998), vol. 4, pp. 35-36.


NOTAS:
[1] Acrópolis que é Paris.

Tradução em 5 de Maio de 2014.
Tradutor: Rev. Antônio dos Passos Pereira Amaral, ministro presbiteriano, pastor efetivo na Igreja Presbiteriana de Lagoa Santa; professor de teologia e hermenêutica na Escola Bíblica Central do Brasil/Lagoa Santa-MG; Bacharel em Teologia e Missiologia pela Escola Superior de Teologia e Estudos Transculturais/Montes Claros-MG (2003), Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/São Paulo-SP (2013), cursando Mestrado (MDiv) em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper/SP.

Revisado por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO

Fonte: REFORMADOS DO SÉCULO XVI



Sobre o autor: João Calvino

João Calvino (Noyon, 10 de julho de 1509 — Genebra, 27 de maio de 1564) foi um teólogo cristão francês. Aos 14 anos foi estudar em Paris preparando-se para entrar na universidade. Estudou gramática, filosofia, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música. Em 1523 foi estudar no famoso Colégio Montaigu. Em 1528, com 19 anos, iniciou seus estudos em Direito e, depois, em Literatura. Em 1532 escreveu seu primeiro livro, um comentário à obra De Clementia de Sêneca. Em 1533, na reabertura da Universidade de Paris, escreveu um discurso atacando a teologia dos escolásticos e foi perseguido. Possivelmente foi neste período 1533-34 que Calvino se converteu, por influência de seu primo Robert Olivétan.

Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, que continua até hoje. Portanto, a forma de protestantismo que ele ensinou e viveu é conhecida por alguns pelo nome calvinismo, embora o próprio Calvino tivesse repudiado contundentemente este apelido. Esta variante do protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.

Nascido na casa dele , ao norte da França, foi batizado com o nome de Jehan Cauvin. A tradução do apelido de família "Cauvin" para o latim Calvinus deu a origem ao nome "Calvino", pelo qual se tornou conhecido. Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja Católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça.[1]

Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Para muitos historiadores, Calvino terá sido para o povo de língua francesa aquilo que Lutero foi para o povo de língua alemã - uma figura quase paternal. Lutero era dotado de uma retórica mais direta, por vezes grosseira, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado e geométrico, quase de filigrana.

Segundo Bernard Cottret, biógrafo francês de Calvino: "Quando se observa estes dois homens podia-se dizer que cada um deles se insere já num imaginário nacional: Lutero o defensor das liberdades germânicas, o qual se dirige com palavras arrojadas aos senhores feudais da nação alemã; Calvino, o filósofo pré-cartesiano, precursor da língua francesa, de uma severidade clássica, que se identifica pela clareza do estilo".

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Última atualização: 31/07/2020 20:36:00



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