Aos que foram recebidos na membresia da igreja e mentiram em sua profissão de fé

Por: Daniel L. Petersen

Artigo adaptado de: Os pastores, presbíteros e diáconos que mentiram em sua ordenaçãoRev. Ewerton Barcelos Tokashiki.

A recepção de um irmão na igreja é um momento solene e de grande alegria, não apenas para o candidato, mas especialmente para a igreja local. Trata-se de uma ocasião pública e eclesiástica em que, “normalmente” após o culto, diante de Deus e da congregação reunida, o candidato responde a perguntas essenciais sobre sua fé. A essas perguntas, ele professa, em alto e bom som, o seu “sim”, sob o olhar atento dos irmãos que testemunham aquele compromisso espiritual.

Todavia (não raro), logo começam a brotar os desvios. Em seus círculos de convivência, o novo irmão começa a expressar ideias contrárias às doutrinas que jurou crer. Assume uma postura relativista, muitas vezes disfarçada de “abertura” ou “tolerância”, demonstrando desprezo pela fidelidade doutrinária e rotulando sua liderança (presbíteros, diáconos) e os que perseveram em sua identidade confessional como retrógrados ou excessivamente rígidos. Em suas falas, critica a doutrina da igreja, afirmando que o foco agora deve ser na “praticidade”, nas “experiências espirituais”, no “fervor”, relegando a segundo plano a profundidade teológica, a exegese bíblica fiel e a centralidade das Escrituras.

A partir disso, a concepção de culto altera-se drasticamente, a exemplo, a exposição fiel da Palavra deveria dar lugar a mais música, mais estímulo sensorial e emocional, fomentando manifestações subjetivas da fé. A pregação deveria dar lugar a motivação dos membros; a teologia deveria ser substituída pela experiência. Surgem apelos sentimentais: “Se você sentiu, chore; se emocionou, se manifeste...”, e qualquer questionamento a tais práticas é tratado como resistência ao próprio Espírito Santo.

Nesse processo, o compromisso assumido no ato solene da profissão de fé vai sendo desfigurado. A autenticidade da confissão torna-se mero rito; a sinceridade cede espaço à busca por experiências. A ética cristã se distancia da piedade reformada e bíblica. Aquilo que foi publicamente confessado como verdade é, na prática, negado. O mandamento de Cristo — “Seja o vosso sim, sim; e o vosso não, não” (Mateus 5.37) — é então, por fim, abandonado.

Isso deve-nos fazer lembrar que, perante Deus e a igreja, foi feito um juramento. 

Ao mentir (no processo da sua profissão de fé) — fingindo fé, enquanto despreza ou reformula os seus compromissos doutrinários —, comprometeu não apenas sua integridade pessoal, mas também a sua identidade confessional, o seu amor por Cristo e sua lealdade ao corpo visível de crentes.

Por isso, é necessário relembrar as perguntas fundamentais que todo irmão responde no ato da profissão de fé, e que evidenciam não apenas uma entrega individual, mas um compromisso com a sua fé e com os padrões confessionais da sua igreja (em nosso caso a IPB):

1.    Você crê nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, como a Palavra de Deus, única regra infalível de fé e prática?
2.    Você reconhece que é pecador e que somente pela graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo, pode ser salvo?
3.    Você crê em Jesus Cristo como o Filho de Deus e o recebe como seu Salvador e Senhor?
4.    Você promete, com a ajuda do Espírito Santo, viver de modo digno do Evangelho, obedecendo aos mandamentos de Deus e sendo fiel à comunhão da igreja?
5.    Você se submete à autoridade dos oficiais da igreja e promete sustentar a sua doutrina, disciplina e governo, conforme os padrões da IPB?

Essas perguntas expressam o cerno da identidade Cristã e confessional da IPB: a supremacia que é das Escrituras, a salvação pela graça, a centralidade de Cristo, a vida de santidade e a submissão às estruturas e doutrinas que nos foram confiadas como herança reformada.

Mentir na profissão de fé é abandonar essa identidade; é trocar a verdade pela conveniência (ou melhor, pela mentira), o compromisso pela aparência, o Evangelho pelas modas religiosas de ocasião. É ferir a própria consciência, escarnecer da igreja e desonrar o Senhor Deus que sonda corações.

A Escritura é clara:
“Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos, e vos vestistes do novo...” (Colossenses 3.9–10)

A igreja, como coluna e baluarte da verdade, é chamada a discernir e zelar pela pureza da fé. Não pode aceitar falsas confissões sem chamar à luz a necessidade de arrependimento, disciplina e restauração.

Mentir no momento da profissão de fé não é um simples deslize ou engano inocente — é agir conforme a natureza daquele que é chamado por Jesus de “pai da mentira”. O Senhor disse aos religiosos hipócritas: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (João 8.44). 

Referências:

BÍBLIA. A Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida, revista e atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.

TOKASHIKI, Rev. Ewerton Barcelos. Aos pastores, presbíteros e diáconos que mentiram em sua ordenação. Blog Estudantes de Teologia. Disponível em: https://doutrinacalvinista.blogspot.com/2012/12/aos-pastores-presbiteros-e-diaconos-que.html. Acesso em: 05 abr. 2025.



Sobre o autor: Daniel L. Petersen

Gaúcho de São Leopoldo, casado com Liviane Garcia a mais de 12 anos. Pai das gêmeas Júlia e Rebeca, Cristão Reformado, membro da Igreja Presbiteriana Aliança Reformada. Apaixonado por aprender e ensinar. Graduado em Gestão de Tecnologia da Informação pela Faculdade UNIP Porto Velho e Licenciatura em Geografia pelo UniBF. Na áre de Tecnologia: Pós Graduado em Redes e Segurança da Informação pela Faculdade Porto Velho e Eng. de Software pela IPB (Instituto Pedagógico Brasileiro). Na área da Educação: Pós Graduado pelo Instituto Pedagógico Brasileiro nos cursos de Metodologia do Ensino da História e da Geografia, História do Brasil, Tutoria em Educação a Distância e Ensino Religioso. Na área Teológica: Pós Graduado no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper em Estudos Teológicos. Participou como professor nas classes de Catecúmenos, Panorama do Novo Testamento e Cosmovisão Cristã na EBDF na 1ª IPB Porto Velho. Atualmente Profº da Classe de Catecúmenos na Igreja Local.

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Tag: Vida Cristã

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Última atualização: 17/06/2025 6:41:00



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