Carta de João Calvino para Francis Daniel [1533]
Por: João Calvino
CARTA 8 - COMUNICAÇÕES DIVERSAS - UM NOVO TRABALHO DESENVOLVIDO.
PARIS, 1533.
Eu te envio estas coletâneas dos últimos trabalhos, sob esta condição, que, de acordo com o melhor de sua fé e dever, elas circulem entre os amigos, a quem você também saudará respeitosamente por mim, exceto Framberg, a quem resolvi domar com meu silêncio, percebendo que não fui capaz de persuadi-lo com brandura, nem conseguir nada dele por admoestação.
Além disso, o pior de tudo, quando seu irmão veio para cá, ele nem sequer enviou uma única saudação através dele. Eu gostaria que você tomasse conta da demanda legal do Michael, se de alguma maneira ela possa ser executada; mas existe a necessidade do despacho. Por quem, se você fizer tudo que estiver ao seu alcance, te agradecerei como se você tivesse feito este favor a mim mesmo. Você fará o ofício de intérprete para as irmãs, para que você não desfrute sozinho de suas piadas. Eu te envio outro epítome da nossa Academia, ao qual eu resolvi adicionar como um apêndice o que teria sido terminado daqueles Comentários antigos, se o tempo tivesse permitido.
Adeus, meu irmão e amigo mais fiel, seu irmão,
Calvino.
Em nem preciso dizer que estes são tempos difíceis; eles falam por si.
Cuidado para não comunicar o epítome de forma descuidada.
NOTA:
[1] Numa cópia desta carta aparece o destinatário como sendo “Ao Monsieur meu irmão e bom amigo, Advogado em Orleans.” Veja in: Letters 1528-1545 - Selected Works of John Calvin, vol. 4, p. 475.
[Autógrafo Original Latim. - Biblioteca de Berna. Volume 141, página 43.]
Extraído de Letters 1528-1545 - Selected Works of John Calvin (Albany, Ages Software, 1998), vol. 4, p. 41.
Tradutor: Rev. Antônio dos Passos Pereira Amaral, ministro presbiteriano, pastor efetivo na Igreja Presbiteriana de Lagoa Santa; professor de teologia e hermenêutica na Escola Bíblica Central do Brasil/Lagoa Santa-MG; Bacharel em Teologia e Missiologia pela Escola Superior de Teologia e Estudos Transculturais/Montes Claros-MG (2003), Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/São Paulo-SP (2013), cursando Mestrado (MDiv) em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper/SP.
Revisado por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO
Fonte: REFORMADOS DO SÉCULO XVI
Sobre o autor: João Calvino
João Calvino (Noyon, 10 de julho de 1509 — Genebra, 27 de maio de 1564) foi um teólogo cristão francês. Aos 14 anos foi estudar em Paris preparando-se para entrar na universidade. Estudou gramática, filosofia, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música. Em 1523 foi estudar no famoso Colégio Montaigu. Em 1528, com 19 anos, iniciou seus estudos em Direito e, depois, em Literatura. Em 1532 escreveu seu primeiro livro, um comentário à obra De Clementia de Sêneca. Em 1533, na reabertura da Universidade de Paris, escreveu um discurso atacando a teologia dos escolásticos e foi perseguido. Possivelmente foi neste período 1533-34 que Calvino se converteu, por influência de seu primo Robert Olivétan.
Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, que continua até hoje. Portanto, a forma de protestantismo que ele ensinou e viveu é conhecida por alguns pelo nome calvinismo, embora o próprio Calvino tivesse repudiado contundentemente este apelido. Esta variante do protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.
Nascido na casa dele , ao norte da França, foi batizado com o nome de Jehan Cauvin. A tradução do apelido de família "Cauvin" para o latim Calvinus deu a origem ao nome "Calvino", pelo qual se tornou conhecido. Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja Católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça.[1]
Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Para muitos historiadores, Calvino terá sido para o povo de língua francesa aquilo que Lutero foi para o povo de língua alemã - uma figura quase paternal. Lutero era dotado de uma retórica mais direta, por vezes grosseira, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado e geométrico, quase de filigrana.
Segundo Bernard Cottret, biógrafo francês de Calvino: "Quando se observa estes dois homens podia-se dizer que cada um deles se insere já num imaginário nacional: Lutero o defensor das liberdades germânicas, o qual se dirige com palavras arrojadas aos senhores feudais da nação alemã; Calvino, o filósofo pré-cartesiano, precursor da língua francesa, de uma severidade clássica, que se identifica pela clareza do estilo".